terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Adultério

    Um assunto que quase ninguém gosta de falar na igreja, mas que acontece sempre. O que é adultério? Vamos ponderar alguns argumentos nesta reflexão. 

    Adultério é a relação sexual entre uma mulher casada ou prometida e outra pessoa que não o marido. Isso era considerado, em todas as sociedades, uma séria ofensa, pois comprometeria a paternidade do herdeiro. A relação sexual entre um homem casado e uma mulher, que não fosse esposa de outro homem, não era, em geral, considerado adultério. 

    As leis gregas e romanas do Antigo Oriente Próximo preocupavam-se em proteger os direitos dos maridos e do pai, e a maioria das culturas antigas não via as relações sexuais entre um homem casado e uma mulher solteira como ofensa punível. A prática espartana era singular ao permitir que mulheres casadas envolvessem-se em relações sexuais com outras pessoas, que não seus maridos, ao passo que a lei cristã primitiva era singular ao permitir que maridos e esposas fossem julgados por adultério. 

    No Antigo Testamento, o sétimo mandamento proíbe o adultério (Êx 20.14; Dt 5.18), enquanto o décimo mandamento proíbe cobiçar a esposa do próximo (Êx 20.17). Embora os maridos fossem exortados a serem fiéis (Pv 5. 15-20), eles eram culpados de adultério apenas quando consorciavam com mulheres casadas. Ambas as partes envolvidas no adultério poderiam estar sujeitas à pena capital de acordo com a Torá (Lv 20.10; Dt 22.22), embora não haja nenhum exemplo de tal penalidade sendo exigida no Antigo Testamento. 

    O Rei Davi cometeu adultério com Bate-Seba e agravou o seu pecado com assassinato quando enviou Urias, o marido dela, para as linhas de frente, onde era certo de que ele seria morto (2 Sm 11). Quando confrontado por Natã, Davi arrependeu-se (Sl 51). 

    No Novo Testamento, de acordo com Mateus 5.32 e 19.8,9, o divórcio era proibido, exceto no caso de adultério. Os cristãos condenaram não só a "moicheia", isto é, o adultério, mas também a "porneia", isto é, a fornicação ou todas as formas de conduta imoral. Jesus declarou que mesmo os pensamentos de luxúria constituem adultério (Mt 5.27,28). 

    Na Mesopotâmia, alguns textos falam da ira divina contra o adultério. Segundo o Código de Hamurabi, a mulher que era acusada de infidelidade podia provar a inicência fazendo um juramento ou passando pela provação de jogar-se no rio. O homem só seria culpado de adultério se soubesse que a mulher que ele seduzira era mulher casada. 

    Um antigo conto babilônico de um julgamento de adultério em Nippur faz com que o marido prenda sua esposa e o amante à cama e leve-os assim diante do tribunal. A mulher adúltera teve suas partes pudendas raspadas e o nariz perfurado com uma flecha. Ela foi, então, levada nua ao redor da cidade. 

    Segundo o Papiro Westcar egípcio, um mago arranjou um crocodilo para capturar o adúltero e para que sua esposa fosse queimada. Na falta de execução, os culpados poderiam ser publicamente açoitados ou mutilados, tendo as orelhas ou o nariz cortados, ou poderiam ser banidos para as pedreiras ou para a Núbia. 

    No Mundo Greco-Romano afirmava-se que não poderia haver adultério em Esparta, uma vez que, em sua preocupação de gerar tantos bebês masculinos saudáveis quanto possíveis, os espartanos permitiam que as esposas consorciassem com outros homens desde que com a permissão dos maridos. 

    Na República Romana, o marido que pegasse sua esposa e um homem em flagrante adultério tinha o direito de matá-la e mutilar ou matar seu amante. Se houvesse provas de que ela era infiel, ele convocaria um tribunal, que incluísse os membros de sua família, para julgá-la. Se fosse considerada culpada, ela poderia ser condenada à morte ou se divorciar do marido, retendo parte do dote dela. 

    Ainda na Roma Antiga, o marido poderia matar impunemente o homem de classe inferior, como um escravo ou um liberto apanhado em adultério. O pai poderia matar a filha e o adúltero; o marido poderia matar o adúltero. 

    No mundo cristão, o adultério muitas vezes encabeça a lista de vícios. É condenado em numerosos textos. Os Pais da Igreja, ao interpretarem a declaração de Jesus referente ao divórcio, afirmaram que o marido poderia afastar a esposa adúltera e que a esposa poderia deixar o marido adúltero. 

 Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

Fonte de pesquisa: Dicionário da Vida Diária na Antiguidade Bíblica e Pós-Bíblica, CPAD, 2020 p. 89-95.

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