terça-feira, 12 de julho de 2022

A maldita proliferação dos jargões evangélicos

    "Tô na bênção", "eu repreendo", "eu declaro", "eu ordeno", "vira para o irmão do seu lado e diga...", "tá amarrado", "queima", "é forte, Brasil", "manda teu anjo de guerra", "vaso", e a lista se estenderia infinitamente. Esses são jargões evangélicos corriqueiros em nossos dias. Virou uma praga. Onde vamos encontramos esses jargões. Mas, que mal tem isso? O mal é que estas expressões não são nem um pouco inteligíveis aos não crentes, portanto, não servem para nada a não ser para confundi-los. São palavras copiadas e repetitivas que cansam a nossa inteligência. A pessoa adota uma espécie de ritual e sempre acaba na mesma ladainha, como se fosse um papagaio ou um disco furado. 
 
    De acordo com Isaías 29. 13 e 14, Deus censura o povo de Israel porque a sua religiosidade era apenas da boca para fora. Senão vejamos o que o Senhor diz através do Profeta: "Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído; Portanto eis que continuarei a fazer uma obra maravilhosa no meio deste povo, uma obra maravilhosa e um assombro; porque a sabedoria dos seus sábios perecerá, e o entendimento dos seus prudentes se esconderá." A verdade é que, através da palavra, formulamos conceitos, construímos realidades, influenciamos, somos influenciados. É por isso que a "linguagem evangélica precisa estar sintonizada com a Palavra de Deus. Eu não consigo imaginar Jesus, Paulo, Pedro ou qualquer um dos pais da Igreja usando esse linguajar tão esdrúxulo que utilizamos hoje em dia no meio evangélico. 
 
    Será que utilizar expressões bíblicas e mesmo fazer algo em nome de Jesus sempre é sinal de verdadeira espiritualidade? De acordo com as palavras de Jesus no sermão do Monte, não. Vejamos o que o Senhor Jesus disse: "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade." Mateus 7:21-23. Destarte, podemos ver aqui uma séria advertência para essa turba que destilam esses jargões e deixa transparecer uma falsa espiritualidade. Que suas palavras sejam simples, mas dentro da orientação do Espírito Santo. Muitos crentes tem adotado certas expressões chavões que viram moda, mas que são vazias de conteúdo e às vezes até antibíblicas, constituindo-se em "vãs repetições" condenadas por Jesus na oração do Pai Nosso. 
 
    Que cuidado o cristão precisa tomar para que a sua linguagem seja sadia? Em primeiro lugar, ter uma linguagem sintonizada com a razão. É o que nos orienta o Apóstolo Paulo escrevendo aos Romanos. Ele nos chama a atenção para o uso do nosso entendimento. "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus." Romanos 12:1,2. Dessa forma, devemos ser mais inteligentes do que estamos sendo no nosso cotidiano. Em segundo lugar, a nossa linguagem deve estar sintonizada com a Palavra de Deus. É o que orienta o Apóstolo ao escrever aos Filipenses. Diz ele: "Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco." Filipenses 4:8,9. O cristão tem a responsabilidade de influenciar este mundo, transmitir a Palavra de Deus e levar a mensagem do Evangelho. Mas, só iremos ter êxito nessa missão se formos mais inteligentes do que estamos sendo hoje. A linguagem evangélica precisa evidenciar o equilíbrio entre fé e razão. Não podemos ser levados apenas pela emoção. Não é o muito falar que vai convencer alguém. Quem faz o milagre da transformação é o Espírito Santo. Portanto, que falemos uma linguagem inteligível aos nossos ouvintes. 
 
    Por fim, não é dizendo que "O Brasil é do Senhor Jesus Cristo" que vamos transformar a população em uma nação de servos de Deus. Não é porque alguém "declara" ou "ordena" que as coisas vão acontecer da forma que ele quer. A linguagem cristã precisa, por um lado, ser menos artificial e presunçosa e, por outro, mais realista, sincera e coerente. Na verdade, o que precisa ser feito é pregarmos a verdade da Palavra de Deus e não apenas frases ensaiadas e repetitivas que não tem efeito nenhum na vida espiritual. 
 
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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