segunda-feira, 20 de outubro de 2025

O tempo em que vivemos

    A natureza humana é feita de paradoxos. Somos carne que deseja permanência, somos tempo que deseja eternidade. No século XXI, essa condição se torna ainda mais evidente: erguemos torres de tecnologia que tocam o céu, mas continuamos a caminhar com as mesmas angústias antigas, como se cada tela fosse apenas um espelho polido de nossas próprias inquietações. 
 
    Vivemos na era da abundância de informações, mas da escassez de silêncio. Temos o poder de criar mundos virtuais, mas ainda tropeçamos na dificuldade de habitar plenamente o mundo real. A pressa nos devora, e o que é essencial se dissolve nas mãos como areia. 
 
    O grande desafio do nosso tempo talvez não seja apenas externo — a mudança climática, a desigualdade, o avanço das máquinas — mas interno: aprender a não nos perder de nós mesmos. Pois de que adianta dominar a inteligência artificial se não soubermos dialogar com a nossa própria consciência? De que vale explorar o universo se não formos capazes de cultivar a delicadeza da convivência? 
 
    A natureza humana pede equilíbrio entre o fogo e a brisa, entre a conquista e a contemplação. O século XXI nos chama a reinventar a forma de ser humanos: menos donos e mais guardiões, menos espectadores e mais partícipes do destino comum. 
 
    Talvez, no fundo, a maior revolução não esteja nas máquinas que criamos, mas na capacidade de reencontrar o que sempre nos foi íntimo: a compaixão, o cuidado, a sabedoria que floresce no silêncio. Pois só assim o futuro deixará de ser um peso de incerteza e se tornará campo fértil para aquilo que ainda podemos sonhar. 
 
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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