“As palavras são a casa do ser.”
— Martin Heidegger
Não seja um difamador. Não ter a má voz do difamador é mais do que uma virtude moral: é um gesto de lucidez diante do caos das palavras. A difamação é a corrupção da linguagem — quando o discurso deixa de servir à verdade e passa a ser instrumento de destruição. A voz do difamador não busca compreender, mas dominar; não deseja comunicar, mas ferir.
Vivemos em tempos em que o falar se tornou fácil, e o pensar, raro. As palavras circulam com velocidade, mas sem peso. Nesse ambiente, resistir à tentação de repetir, distorcer ou julgar torna-se uma forma de integridade espiritual. Não ter a má voz do difamador é preservar a dignidade da fala, é reconhecer que o verbo, quando mal usado, degrada tanto quem o ouve quanto quem o pronuncia.
A difamação nasce do medo e da inveja, mas se alimenta da atenção dos que a escutam. Ela transforma o outro em caricatura, reduzindo sua complexidade a um rumor. No entanto, aquele que se recusa a difamar — e a propagar o que não sabe — faz um ato silencioso de justiça. Seu silêncio não é omissão, mas discernimento.
Não ter a má voz do difamador é, portanto, um modo de estar no mundo sem ampliar o mal que já existe. É guardar a palavra como se guarda uma lâmina: consciente de seu poder de ferir. É compreender que o verdadeiro valor da linguagem está em revelar o real, não em distorcê-lo.
A pureza da voz não é inocência, mas escolha: a decisão de que a fala humana deve servir à construção, não à ruína. E quem sustenta essa escolha, mesmo em meio às vozes que gritam e espalham, preserva algo de essencial — a possibilidade de um diálogo que ainda seja humano.
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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