Neste versículo, Deus fala a Jó do meio da tempestade. É o momento em que o Criador revela o limite imposto ao mar — símbolo do caos, da força bruta e do mistério.
Mas, de forma mais profunda, o limite do mar é também o limite do humano.
O homem, em sua ânsia de compreender e dominar, muitas vezes se esquece de que há fronteiras intransponíveis, lugares onde apenas o divino habita. O mar — com suas ondas orgulhosas — representa o impulso humano de querer ultrapassar o que é próprio da sua condição.
E Deus responde: “Até aqui.”
Do ponto de vista filosófico, este versículo toca no cerne da finitude humana.
Heidegger dizia que o homem é um “ser-para-a-morte”, um ser lançado no mundo com consciência de seus limites.
Kant, por sua vez, lembrava que a razão humana, embora poderosa, “deve permanecer dentro dos limites da experiência possível” — pois o que está além pertence ao noumenal, ao mistério inacessível.
E Pascal, com sua lucidez melancólica, via o homem como “um caniço pensante”: frágil diante do universo, mas consciente dessa fragilidade.
Deus, ao colocar limites ao mar, nos recorda que a criação é sustentada pela ordem e pela medida.
A existência humana só encontra sentido quando reconhece que a sabedoria não está em ultrapassar os limites, mas em compreender o seu propósito dentro deles.
A humildade diante do infinito é, ao mesmo tempo, o começo da fé e o início da verdadeira filosofia.
O versículo, portanto, é um espelho:
mostra o ponto onde o orgulho das ondas se desfaz, e o silêncio do mar encontra o limite traçado pela mão de Deus.
Assim também o ser humano é chamado a reconhecer que há um “até aqui” que o protege de si mesmo — um limite que não é prisão, mas cuidado.
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

Nenhum comentário:
Postar um comentário