A verdade não habita o mundo exterior, mas o íntimo da alma — porque o que vemos fora é apenas reflexo, fragmento, aparência moldada pela luz e pela sombra do que somos por dentro. O mundo oferece ruídos, imagens, vozes, mas é no silêncio interior que ela se revela, nua e inquietante. Buscar a verdade fora de si é caminhar em círculos; encontrá-la dentro é descer às profundezas onde moram as nossas contradições, medos e desejos não ditos. Lá, no centro do ser, a verdade não precisa de provas — ela apenas é, e sua presença basta para iluminar ou destruir.
Viver recolhido não é fugir do mundo, mas habitá-lo com alma desperta. O recolhimento não é ausência, é presença mais profunda — um modo de existir sem se perder no barulho das vozes, nas urgências sem sentido, nas correntes invisíveis do tempo. Quem se recolhe não abandona o mundo, apenas aprende a vê-lo de outro modo: pelas frestas do silêncio, pelo murmúrio do próprio ser. É no recolhimento que a alma respira, escuta, compreende. E quando volta a agir, o faz com mais verdade, porque já não vive arrastada pelo turbilhão — vive a partir do centro, onde o mundo se revela em sua essência.
Cada instante de silêncio é uma restituição da ordem interior — um breve retorno ao que fomos antes do ruído, antes da pressa, antes das distrações que nos fragmentam. No silêncio, as coisas voltam ao seu lugar: o pensamento encontra seu eixo, o coração desacelera, e a alma recorda que não nasceu para o tumulto, mas para a escuta. O silêncio não é vazio, é restauração — um espaço onde o caos se dissolve e a consciência se reorganiza, como se o universo interior respirasse de novo em harmonia com o invisível.
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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