domingo, 12 de outubro de 2025

O que veem os seus olhos?

    Há olhos que se cansaram de ver o real. Olhos que, exaustos da claridade, aprenderam a amar a penumbra — onde o tempo parece menos cruel, onde a ilusão veste o rosto da esperança. Esses olhares acreditaram que o tempo curava, quando, na verdade, apenas apagava os vestígios do que fomos. 
 
    Há neles uma fome antiga, uma sede de eternidade. Procuram no efêmero um refúgio que não existe. E, por medo do vazio, chamam de verdade a farsa que o tempo sussurra docemente, como quem embala um sono que não quer despertar. 
 
    Vi olhos assim: alimentando-se do passado, presos às sombras de lembranças que o vento já esqueceu. Enxergavam o tempo não como rio, mas como espelho rachado — cada fragmento refletindo uma mentira diferente. Acreditavam no consolo das horas, sem perceber que o tempo sorri apenas para distrair os que o temem. 
 
    Os que só enxergam a mentira do tempo vivem entre véus e ruínas. Sentem-se antigos mesmo quando o corpo ainda pulsa. Sabem, em silêncio, que cada segundo é um disfarce, que a juventude é um sonho gasto, e que a eternidade não passa de um eco disfarçado de promessa. 
 
    O tempo, com seus olhos antigos, observa-os em retorno. Sorri, paciente, sabendo que eles o adoram e o amaldiçoam no mesmo gesto. Pois nada é mais humano do que acreditar na mentira do tempo — e chamá-la de vida. 
 
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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