É muito fácil imaginar que, se estivéssemos no lugar de quem ocupa cargos de destaque na política ou na administração pública, agiríamos com mais justiça, mais coragem, mais sensatez. É quase um instinto humano: observar de fora, julgar de longe, apontar o que está errado e preencher mentalmente as lacunas com a certeza confortável de que nós faríamos melhor.
Mas essa certeza é uma ilusão benevolente — um espelho que nos mostra uma versão idealizada de nós mesmos.
A verdade é que não sabemos.
Não sabemos o peso real das decisões que parecem simples vistas de longe, mas que, de perto, envolvem vidas, interesses conflitantes, pressões invisíveis e consequências que se desdobram como fios de um tecido complicado. Também não conhecemos as engrenagens internas, as limitações, os dilemas éticos, os acordos necessários e as responsabilidades que ninguém vê, mas que recaem como uma pedra sobre quem assina seu nome em documentos que reverberam sobre um país inteiro.
Dizer “se eu estivesse lá, faria melhor” é um gesto humano, compreensível, mas carregado de presunção.
E se, no lugar deles, fizéssemos pior?
E se, diante do mesmo cenário, das mesmas pressões, dos mesmos riscos, também nos curvássemos ou errássemos?
E se a fragilidade que julgamos neles também morasse silenciosa em nós?
Julgar é rápido.
Compreender é lento.
E governar — governar de verdade — é atravessar um terreno que nenhum observador externo consegue medir completamente.
Isso não significa absolver erros, ignorar abusos ou aceitar injustiças. Significa reconhecer que o exercício do poder é um espaço onde as certezas se desfazem e onde a soberba de quem observa pode ser tão enganosa quanto a falha de quem age.
Antes de condenar, talvez devêssemos lembrar:
o ser humano é sempre mais complexo que o papel que ocupa.
E a humildade, mais do que a crítica, é o que nos permite enxergar com clareza a fragilidade compartilhada que nos une — governantes e governados — no mesmo território incerto do ser humano.
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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