domingo, 14 de dezembro de 2025

Tenha cuidado com a bajulação

    A lisonja é um veneno de sabor doce. Não causa dor imediata, não provoca rejeição, não desperta defesas. Ao contrário: acomoda-se no ego, instala-se como uma música suave que embala a consciência e adormece o senso crítico. É por isso que ela é tão perigosa. O elogio sem motivo não busca reconhecer virtudes reais, mas produzir dependência, submissão ou cegueira. Quem vive cercado apenas por aplausos aprende, pouco a pouco, a confundir aparência com essência. 
 
    A crítica honesta, embora áspera, tem a virtude da solidez. Ela não seduz, mas sustenta. Não massageia o orgulho, mas o coloca em prova. Ouvi-la exige coragem, pois obriga o sujeito a confrontar suas falhas, seus limites e suas zonas de conforto. Ainda assim, é esse confronto que impede a estagnação. Quem recusa a crítica troca crescimento por ilusão, verdade por conforto emocional. 
 
    Nada é mais frágil do que alguém iludido a seu próprio respeito porque essa ilusão não resiste ao primeiro choque com a realidade. Basta uma adversidade, um fracasso público, uma discordância sincera, e todo o edifício do ego — construído sobre elogios vazios — desmorona. A criatura que acreditou demais em si mesma sem se conhecer, torna-se defensiva, ressentida ou amarga, pois nunca aprendeu a lidar com a imperfeição. 
 
    Afastar-se da lisonja é, portanto, um exercício de humildade e lucidez. Significa escolher a verdade mesmo quando ela fere, preferir o silêncio honesto ao aplauso fácil, e entender que o valor real não precisa ser anunciado o tempo todo. Quem se conhece não precisa de adulação; quem cresce aprende a agradecer a crítica; e quem busca solidez compreende que o elogio só tem sentido quando nasce da verdade. 
 
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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