sábado, 27 de dezembro de 2025

Não se irrite

    Viver em sociedade é caminhar por um campo sensível, onde cada palavra carrega peso e cada gesto deixa rastro. Ter cuidado para não magoar ninguém não significa anular a si mesmo, mas reconhecer que o outro também é território sagrado, ainda que pense, sinta ou aja de modo distinto. 
 
    Aprender a dizer “não” no momento certo é um ato de honestidade — e também de respeito. O silêncio forçado, o consentimento contrariado ou a aceitação por medo do conflito costumam gerar feridas mais profundas do que uma negativa dita com clareza e delicadeza. Um “não” dito com consciência evita ressentimentos futuros e preserva a dignidade de ambos os lados. 
 
    A rispidez e a intolerância, quase sempre, são sintomas de dores não elaboradas. Quando reagimos com aspereza, raramente estamos falando do outro; estamos expondo nossas próprias urgências, frustrações e medos. Dominar a irritabilidade não é reprimir emoções, mas aprender a escutá-las antes que se tornem armas. A pausa, nesse sentido, é uma forma de sabedoria: ela impede que o impulso governe aquilo que deveria ser escolha. 
 
    Compreender o ponto de vista do outro não exige concordância, mas empatia. É o exercício de sair, ainda que por instantes, do centro do próprio mundo e admitir que existem outras verdades possíveis. Essa compreensão amplia o diálogo e humaniza os conflitos, transformando choques em encontros. 
 
    No fim, agir com cuidado é um gesto de maturidade ética. É entender que firmeza não precisa de agressividade, que limites podem ser traçados com serenidade e que a verdadeira força reside no domínio de si. Quem aprende a cuidar das próprias palavras e ações constrói pontes — e nelas, caminha com mais leveza, sem carregar o peso do arrependimento. 
 
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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