sábado, 20 de dezembro de 2025

O tempo não é justo com todos

    Cada pessoa nasce lançada em um tempo que não escolheu. Esse tempo traz consigo ritmos, exigências, oportunidades e limites. Dizer que “cada pessoa tem o seu momento” não significa afirmar que todos recebem as mesmas chances, mas reconhecer que o sucesso e o fracasso se entrelaçam com a capacidade — ou possibilidade — de responder às circunstâncias do próprio tempo. 
 
    O sucesso, muitas vezes, é interpretado como mérito puro, como se fosse apenas fruto de talento e esforço. No entanto, ele depende também de sintonia. Há ideias que chegam cedo demais e são ignoradas; outras surgem tarde demais e já não encontram espaço. Há pessoas preparadas, lúcidas, sensíveis, que vivem em épocas surdas ao que têm a dizer. Não lhes faltou inteligência ou vontade — faltou tempo favorável. A história está cheia de vidas assim: promessas abafadas pelo contexto, sementes lançadas em solo árido. 
 
    O fracasso, por sua vez, nem sempre nasce da incapacidade. Às vezes é o desencontro entre o indivíduo e o mundo que o cerca. Alguém pode ter recebido oportunidades, tempo, recursos, mas não conseguiu reconhecer o chamado daquele instante. O tempo passa, oferece sinais, abre portas — e ainda assim pode ser desperdiçado. Não por maldade, mas por cegueira, medo ou apego a imagens antigas de si mesmo. 
 
    Responder ao tempo exige escuta. Exige perceber o que a época pede e até onde ela permite ir. Alguns tempos pedem ousadia; outros, resistência silenciosa. Há momentos em que agir é avançar, e outros em que sobreviver já é um gesto de coragem. A tragédia começa quando exigimos de nós mesmos ou dos outros um sucesso que aquele tempo não comportava — ou quando condenamos como fracasso aquilo que foi apenas uma tentativa honesta de existir. 
 
    Reconhecer que nem todos tiveram o tempo que mereciam nos torna mais humanos. Suaviza o julgamento e amplia a compaixão. Ao mesmo tempo, admitir que alguns tiveram o tempo, mas não souberam aproveitá-lo, nos lembra da responsabilidade que acompanha cada oportunidade. O tempo não é justo, mas é insistente: ele passa, convoca, cobra respostas. 
 
    No fim, talvez o verdadeiro êxito não seja vencer o tempo, mas atravessá-lo com lucidez. Entender que cada vida é uma conversa inacabada com sua época — às vezes harmoniosa, às vezes conflituosa. E que, mesmo quando o sucesso não vem, há dignidade em ter respondido da melhor forma possível ao tempo que nos foi dado. 
 
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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