quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Seja dono de si mesmo

    A serenidade não é apenas um estado de calma: é uma forma de sabedoria. Quando alguém aconselha “não perca a sua serenidade”, não está pedindo para você ser passivo ou indiferente, mas para que não entregue o seu eixo interior ao acaso das emoções que vêm de fora. 
 
    A raiva, o rancor e a mágoa têm uma força quase sedutora. Eles dão a impressão de movimento, de ação, de resposta. Mas, na verdade, nos consomem por dentro. A raiva acelera o corpo como um fogo mal contido; o rancor permanece como brasas enterradas, aquecendo silenciosamente o fígado, que na cultura simbólica é o órgão da ira acumulada; a mágoa, por sua vez, é um veneno lento, que se infiltra no coração, tornando nossos sentimentos turvos, desconfiados, cansados. 
 
    Manter a serenidade, então, é um ato de autocuidado profundo. É olhar para a avalanche de emoções possíveis e escolher não ser arrastado por elas. Dominar as reações emotivas não significa reprimi-las — significa entendê-las. A emoção que é compreendida se dissolve; a que é reprimida fermenta. 
 
    A serenidade nasce quando você reconhece que nem tudo merece resposta, que nem toda provocação é sobre você e que nem todo conflito precisa ser acolhido. Ela surge quando você aprende a respirar antes de reagir, a observar antes de falar, a sentir sem ser dominado. É a capacidade de dizer a si mesmo: “Eu escolho a paz, não por fraqueza, mas por força.” 
 
    E, no fim, essa serenidade não protege apenas o corpo, mas também o espírito. É ela que mantém a lucidez nos momentos difíceis, que sustenta o coração nas perdas, que permite seguir adiante sem carregar o peso das tempestades alheias. 
 
    Ser sereno é, no fundo, exercer o mais alto grau de liberdade: a liberdade de não se tornar refém das emoções que passam — e deixar que a vida flua com mais leveza, mais saúde e mais verdade. 
 
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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