domingo, 5 de fevereiro de 2012

Jesus Mendigo



Procuram-me nos templos e igrejas, 
Mas nem sempre eu estou por lá, 
Na maioria do tempo estou na rua, 
Deitado, solitário e desmotivado 
Com esse mundo totalmente desregrado. 

A maioria dos mortais pensa que irei voltar, 
Mas eu já voltei, e sequer fui notado. 
Fiz questão de voltar com um aspecto castigado, 
E de misturar-me com os enfermos de coração despedaçado. 

Os abastados ignoram-me, 
Quando não, tratam-me como os dejetos de suas latrinas. 
Os pseudosreligiosos passam do meu lado, 
Mas não me veem de verdade. 
Depois dos mendigos, os únicos serem 
Que conseguem notar a minha presença 
São as crianças, que sempre me presenteiam com um sorriso. 

Já os adultos estão podres, 
São vazios por dentro e cheios por fora, 
Cheios de si, 
Cheios de razão, 
Cheios de certezas, 
Cheios de pecados, 
E consequentemente 
Cheios de sofrer, 
Pois ainda não aprenderam 
A essência do viver. 

É tudo tão simples, 
Meu pai é simples, 
Eu sou simples, 
A fé é simples, 
O afamado amor é simples, 
E a felicidade que tanto buscam é ainda mais simples. 
Mas os mortais insistem 
Em complicar o singelo, 
E depois oram a mim 
Como solução, 
Como se houvesse razão. 

A falta de humildade 
Faz com que a humanidade não me veja realmente, 
Mas eu estou aí, nas coisas simples, 
Do seu lado, deitado na sua porta, 
Tomando conta da sua casa, 
Querendo a cada dia mais 
Reger a sua vida com luz e harmonia, 
Basta enxergar-me com verdade, 
Basta vestir-se com os trapos da bondade 
E despir-se dos finos panos da vaidade. 

Não preocupe-se em me achar 
Em uma religião, 
Retire as poeiras mundanas de sua retina, 
Veja que estou diante de ti, e terás o seu galardão. 

Não celebre o meu nascimento 
Apenas no Natal, chamando-me menino Jesus, 
Pois todo dia eu renasço em baixo de uma marquise, 
E lá, chamam-me de mendigo Jesus. 

Bruno Rico. 

www.sentimentocritico.blogspot.com