Se a busca pela iluminação é sincera, ela abandona o orgulho como método.
Quem realmente quer ver, aprende a olhar para além da hierarquia, do título, da idade e da intenção do outro. Nesse estado, o mundo deixa de ser um palco de provas e passa a ser uma escola sem paredes.
Uma criança ensina sem saber que ensina. Ela revela a coragem de perguntar, a liberdade de errar, a presença inteira no agora. Ao observá-la, o buscador percebe o quanto desaprendeu a simplicidade em troca de defesas. A criança não carrega máscaras; ela é, e isso basta para iluminar quem está disposto a ver.
Já a pessoa que xinga na rua oferece uma lição mais dura, porém igualmente preciosa. Ela expõe nossas feridas invisíveis, nosso apego à imagem, nossa necessidade de aprovação. O insulto não ensina pela gentileza, mas pelo espelho: mostra onde ainda reagimos, onde o ego ainda governa. Se há dor, há algo a ser compreendido. Se há raiva, há um nó pedindo atenção.
Quando a busca é autêntica, nada é desperdiçado. O elogio ensina gratidão. A crítica ensina humildade. A perda ensina desapego. O caos ensina silêncio. Até o erro — sobretudo o erro — se torna um instrutor paciente.
Nesse caminho, o mundo inteiro se transforma em mestre porque o aprendiz deixou de exigir que a lição venha de forma confortável. Ele entende que a verdade não escolhe linguagem, nem rosto, nem momento. Ela se manifesta em tudo, o tempo todo.
Iluminar-se, então, não é acumular respostas elevadas, mas desenvolver uma escuta profunda. É aprender a ajoelhar o ego diante da vida cotidiana e reconhecer que cada encontro — do mais doce ao mais áspero — carrega uma centelha de ensinamento.
Quando isso acontece, não há mais inimigos, apenas professores disfarçados. E o mundo, antes caótico e hostil, revela sua natureza mais íntima: um mestre incansável ensinando, repetidamente, a arte de ser humano.
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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