sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Ler ficção é perda de tempo?


A ficção, junto com composição de músicas e aconselhamento pessoal, são formas constantes que Deus me ensina empatia. É fácil no cristianismo evangélico assumir que todos que se opõe ou discordam de nós deve ser simplesmente evaporado verbalmente como um inimigo a ser destruído. Mas nenhum ensinamento falso ou direcionamento enganoso tem qualquer poder até que aparente ser algo bom a alguém. Jesus nos ensina que aqueles que entregam os discípulos à morte “pensarão que estão fazendo a vontade de Deus”. Praticamente qualquer pessoa se sente o heróis de sua própria narrativa pessoal.

A ficção ajuda pessoas a apresentarem honestamente aquelas histórias íntimas que as pessoas contam a si mesmas, coisas que elas não irão discorrer em, por exemplo, um debate, ou uma monografia, sobre sua forma de viver. Na ficção, um Darwinista pode mostrar como é o temor de se viver uma vida em sentido em um universo sem propósito, mas ele também pode demonstrar onde ele encontra aquelas coisas, como amor e admiração, que só podem ser encontradas de forma plena em Deus.

Uma boa ficção não é “perda de tempo” pela mesma razão que boa música e boa arte não são perdas de tempo. Tudo isso está enraizado em um Deus infinitamente criativo que escolheu ter sua imagem representada por seres humanos que também criam. Cultura não é irrelevante. É parte do que Deus nos mandou fazer no começo, e que ele declara ser bom. Quando você desfruta da verdade e da beleza, quando você é abençoado por dons que Deus deu aos seres humanos, você está desfrutando de um universo em que, apesar de caído, Deus se regozija e considera “muito bom”.

Uma criança aprende a simpatizar com o heroísmo de João, o matador de gigantes do pé de feijão e se sente repelida pela crueldade das irmãs da Cinderela. Quando você pensa sobre isso, é assim que as Escrituras muitas vezes funciona. Provérbios, por exemplo, pinta uma imagem vívida da tragédia revoltante que é o adultério (Provérbios 7).

Jesus não simplesmente fala sobre o perdão de Deus de forma abstrata. Ele conta uma história, do filho pródigo, pensada para ser chocante (um filho que gasta toda sua herança) e para evocar simpatia e identificação. Os apóstolos fazem o mesmo. Eles usam linguagem literária e visual para apelar não somente ao intelecto, mas também a consciência, por meio da imaginação. Pense na linguagem de Paulo ao dizer “sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós” ou o uso de temas literários no Novo Testamento (“o fruto do Espírito”, etc.).

A ficção pode, às vezes, como a história do profeta Natã sobre a cordeirinha do homem pobre, despertar partes de nós que estão calejadas, seja por ignorância, preguiça, desatenção ou pecado.

Texto: Russell Moore

Extraído e adaptado de: http://voltemosaoevangelho.com/blog/2018/02/por-que-cristaos-deveriam-ler-ficcao

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

A revolta de Coré


Quem foi Coré ou Corá? Quais os motivos da sua rebelião? E o desfecho?

Coré não é muito citado na Bíblia. No Antigo Testamento, há algumas referências aos seus ascendentes e descendentes (os coreítas). Ele era da tribo de Levi, seu bisavô. Seu avô era Coate e seu pai Jizar (ou Isar ou Aminadabe) (Ex 6.21; 1Cr 6.22; Nm 16.1). Seus filhos foram Assir, Elcana, Abiasafe (ou Ebiasafe) (Ex 6.24; 1Cr 6.22. 37; 1Cr 9.9). A história de sua rebeldia encontra-se em Números 16. Há mais duas referências a ele em Números 26.9-11 e 27.3. No Novo Testamento há apenas uma referência a ele, em Judas 11.

1. Quem eram os rebeldes?

O líder dos rebeldes era Coré, bisneto de Levi e primo de Moisés. Portanto, estes eram levitas. Coré se associou a dois irmãos, Datã e Abirão (Nm 16.1, 12, 24, 25, 27; 26.9; Dt 11.6; Sl 106.17), e também a Om, sendo todos eles da tribo de Ruben. Contou ainda com o apoio de duzentos e cinquenta homens, príncipes da congregação, eleitos por ela, homens de renome (Nm 16.2). Todos eles se ajuntaram contra Moisés e Arão, para dar um basta à sua liderança sobre o povo.

2. As causas da rebelião 

“Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, ….” (1Sm 15.23)

1ª) Uma visão equivocada

“e se ajuntaram contra Moisés e contra Arão e lhes disseram: Basta! Pois que toda a congregação é santa, cada um deles é santo, e o SENHOR está no meio deles; …” (Nm 16.3a) Uma coisa é ser chamado para ser santo, outra coisa é ser santo, separado. O verdadeiro líder enfatiza a necessidade dos irmãos viverem em santidade de vida, para desfrutarem da comunhão com um Deus que é Santo. Os falsos líderes promovem a libertinagem e fazem vista grossa para o pecado. Banalizam a Graça Divina e promovem a falta de temor à Santidade de Deus. As condições estabelecidas por Deus a este respeito são muito claras: “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel.” (Ex 19.5-6). Santidade não é rótulo, mas um “estilo” de vida.

2ª) Ambição pelo poder 

“…. por que, pois, vos exaltais sobre a congregação do SENHOR?” (Nm 16.3) 
“…. senão que também queres fazer-te príncipe sobre nós?” (Nm 16.13)

A alegação ou acusação dos rebeldes era a suposta usurpação do poder por parte de Moisés e Arão. É espantoso verificar que, mesmo depois de tantas manifestações milagrosas e incontestáveis do poder de Deus pela intermediação de Moisés (pragas, mar se abrindo etc), essa gente pudesse ainda questionar a liderança e autoridade de Moisés e Arão. Percebe-se, da parte deles, uma inveja incontrolável de Moisés. Afinal, por que esse tal Moisés deveria ser o protagonista de tudo isso? Quem era ele? Foi criado na corte de Faraó. Depois de adulto, com quarenta anos de idade, fugiu para uma terra distante, ficando ali outros quarenta anos. Enquanto isso eles habitaram e sofreram junto ao povo cativo. Agora, depois de todo esse tempo, ele vem de fora para se fazer príncipe sobre o povo? Acontece sempre aquela velha e recorrente situação: “antiguidade é posto, temos que respeitar!”, “chegou agora e já quer se sentar à janela?”. O ser humano, inclusive o cristão, precisa entender que, não importa se o líder é de perto ou é de longe. O que realmente importa é se ele é o melhor para a função e, no caso da igreja, se ele é o designado pelo Soberano Senhor dos céus e da terra para exercer aquela liderança!

3ª) Ambição pelo sacerdócio

“acaso, é para vós outros coisa de somenos que o Deus de Israel vos separou da congregação de Israel, para vos fazer chegar a si, a fim de cumprirdes o serviço do tabernáculo do SENHOR e estardes perante a congregação para ministrar-lhe; e te fez chegar, Coré, e todos os teus irmãos, os filhos de Levi, contigo? Ainda também procurais o sacerdócio?” (Nm 16.9-10) Na matança dos primogênitos dos egípcios, os primogênitos de Israel foram poupados. Assim, os primogênitos de Israel passaram a pertencer ao Senhor. Então, Deus fez uma troca, desses primogênitos (inclusive dos animais), por todos os homens da tribo de Levi (Nm 3.12-13). Quando Deus separou a tribo de Levi das demais tribos de Israel, não lhe deu herança de terra, mas eles deveriam receber cidades no meio das possessões das demais tribos (Nm 35.2ss). Também os consagrou para o serviço de Deus, primeiramente no Tabernáculo, depois, no Templo. Todos os levitas foram designados para exercer algum encargo na tenda da congregação. Eles deveriam atuar sob a liderança de Arão e seus filhos (Nm 3.9). Em Números 3 e 4 as tarefas relativas ao Tabernáculo são distribuídas pelas famílias dos três filhos de Levi: Gerson, Coate e Merari. Basicamente, coube aos filhos de Gerson cuidar da infraestrutura externa (montagem, desmontagem e transporte) (Nm 3.21-26; 4.21-28); aos filhos de Merari cuidar da infraestrutura interna (montagem, desmontagem e transporte) (Nm 3.33-37; 4.29-33); e, aos filhos de Coate cuidar do mobiliário e utensílios sagrados do santuário (montagem, desmontagem e transporte) (Nm 3.27-32; 4.1-20). É importante observar que coube à família de Coate a parte mais delicada, cuidar das “coisas santíssimas” (Nm 4.4), como a arca, com risco de morte: “Isto, porém, lhe fareis, para que vivam e não morram, quando se aproximarem das coisas santíssimas: Arão e seus filhos entrarão e lhes designarão a cada um o seu serviço e a sua carga. Porém os coatitas não entrarão, nem por um instante, para ver as coisas santas, para que não morram.” (Nm 4.19-20). Tudo isso foi estabelecido por Deus, por intermédio de Moisés, inclusive o tão cobiçado sacerdócio: “Mas a Arão e a seus filhos ordenarás que se dediquem só ao seu sacerdócio, e o estranho que se aproximar morrerá.” (Nm 3.10).

A igreja é o corpo de Cristo, onde cada membro tem a sua função. É o próprio Senhor quem vocaciona, chama e elege aqueles que devem ser reconhecidos como líderes do rebanho. É danoso para o Corpo de Cristo, quando alguém ambiciona posições e cargos, para os quais o Senhor não o designou, ou quando queremos impor, pela força, aqueles que o Senhor não escolheu para determinada missão. Cada um tem uma missão importante e específica a realizar no reino de Deus e deve se deixar conduzir pelo Espírito Santo de Deus!

3. O desenrolar da rebelião

A prova do líder e dos santos (Nm 16.4-7; 16-19; 27-30) 

“E falou a Coré e a todo o seu grupo, dizendo: Amanhã pela manhã, o SENHOR fará saber quem é dele e quem é o santo que ele fará chegar a si; aquele a quem escolher fará chegar a si.” (Nm 16.5) 

Diante da inesperada rebelião, Moisés não teve outra alternativa senão submeter ao Senhor o arbítrio daquela questão. Moisés estabeleceu dia e hora para o confronto entre a liderança espiritual divinamente instituída e a liderança rebelde. A resposta seria dada pelo próprio Deus! Duas situações haveriam de ser julgadas ali: 1ª) Quem é dele; 2ª) Quem é o santo autorizado a aproximar-se do Senhor. As instruções da prova foram passadas. Ambos os lados deveriam comparecer diante de Deus com os seus incensários acesos; Moisés com o fogo tirado do altar e os rebeldes com o fogo estranho (Nm 16.16-19). Na sua fala final, Moisés esclarece que se algo fora do comum, se coisa inaudita acontecesse ali, levando os rebeldes à morte, ficaria provado que ele era um enviado do Senhor e os seus opositores aqueles que desprezaram ao Senhor (Nm 16.27.30)

A intransigência dos rebeldes e a ira de Moisés (Nm 16.12-15)

Os rebeldes não demonstraram qualquer interesse em dialogar. Eles fizeram o que é característico dos rebeldes: 1º) Acusar os líderes de não dar ao povo uma boa qualidade de vida; 2º) Acusar os líderes de usurpação de poder, de poder não legitimado pelo povo; 3º) Acusar os líderes de enganar os mais simples. É interessante como Moisés, o homem mais manso da terra (“Era o varão Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra.” Nm 12.3) perde a paciência e desabafa com Deus. Aí, quem perde a paciência é Deus e Moisés tenta aplacar sua ira.

A ira divina e a intercessão de Moisés (Nm 16.20-27)

Diante de tanto atrevimento e rebeldia, a vontade de Deus era de exterminar toda a congregação, imediatamente. Essa era já a terceira vez que Deus manifestou este desejo e foi contido por Moisés (Ver as outras duas: Ex 32.10; Nm 14.11). Mais uma vez o Senhor cedeu e aguardou a separação física entre os rebeldes e o restante da congregação (Nm 16.23-26).

4. As consequências da rebelião

1º castigo: A Coré, Datã e Abirão (Nm 16.31-34)

A terra se abriu e engoliu os três líderes, seus homens e seus bens. E o povo fugiu. Em Números 26.11 há o seguinte registro: “Mas os filhos de Corá (Coré) não morreram.”

2º castigo: Aos 250 príncipes da congregação (Nm 16.35)

Fogo procedente do Senhor consumiu os duzentos e cinquenta homens que se apresentaram diante do Senhor com fogo estranho. 

3º castigo: Aos 14.700 murmuradores da congregação (Nm 16.41-50)

Como se as tragédias ocorridas não fossem suficientes para convencer aquela congregação também rebelde, eles tiveram a ousadia de murmurar contra Moisés e Arão, culpando-os de tamanha matança. Mais uma vez a ira divina se manifesta, agora pela 4ª vez (Nm 16.45), para exterminar toda a congregação. A praga dizimou 14.700 murmuradores. Não fora a expiação do povo, providenciada por Arão, sob a ordem de Moisés, toda a congregação teria sido dizimada. Na verdade, desde que a sentença divina fora pronunciada, por ocasião do relatório negativo dos 10 espias, isto é, que os de vinte anos para cima (exceto Josué e Calebe), não entrariam na terra prometida (Nm 14.20-30), a congregação se tornou propensa a rebeldia.

De tudo o que foi exposto anteriormente, fica claro o alto preço que é pago pelos rebeldes e seus seguidores!!!

Texto: Paulo Raposo Correa
Fonte: https://pauloraposocorreia.com.br/2015/04/21/a-revolta-de-core/