segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Viver enquanto se está vivo

    A vida é um intervalo breve entre dois silêncios. Passamos boa parte dela acreditando que o amanhã sempre estará ali, fiel, paciente, pronto para nos receber. Mas a verdade é que o tempo nunca prometeu estabilidade; ele apenas flui, indiferente aos nossos desejos. A brevidade da vida se revela justamente quando começamos a entender o valor do que já passou. Só então percebemos que cada manhã foi única, cada gesto carregava um sentido invisível, e cada pessoa deixava em nós alguma marca – leve ou profunda. 
 
    A velhice, muitas vezes temida, é na verdade uma espécie de clareira na floresta dos dias. Depois de tanto caminhar, ela nos oferece a chance de olhar para trás e enxergar o caminho percorrido. Não com arrependimento, mas com a serenidade de quem compreende que tudo teve seu tempo, seu peso e sua beleza particular. A realidade da velhice é a constatação de que o corpo se cansa, mas a alma amadurece; que os passos ficam curtos, porém o olhar se expande; que as urgências diminuem, enquanto os significados aumentam. 
 
    E então surgem as lembranças — essas pequenas faíscas que reacendem a luz do vivido. São detalhes cotidianos que, ao serem revisitados, ganham um brilho inesperado. Um café preparado com cuidado, uma risada ouvida no quintal, um cheiro de fruta madura na feira, o som de alguém chamando o nosso nome… Tudo isso retorna como fragmentos de um mosaico que só nós conhecemos. Lembranças são o que resta quando a velocidade da juventude se esvai; são o arquivo secreto onde guardamos o que fomos, o que amamos e até o que perdemos. 
 
    Quando a vida parece curta demais, é pelas lembranças que ela se estende. Elas nos permitem revivê-la não como ela realmente foi, mas como a sentimos. E nisso há verdade. 
 
    No fim, a brevidade não é um castigo, mas um convite: viver enquanto se está vivo. Amar com mais presença. Olhar com mais atenção. Agradecer mais, reclamar menos. A velhice não é um ponto final, mas um capítulo em que aprendemos a ler o mundo com delicadeza, aceitando a fragilidade como parte de existir. 
 
    E assim seguimos — entre o que fomos e o que restamos sendo — colecionando memórias e descobrindo que, mesmo quando o corpo desacelera, o espírito ainda sabe dançar no ritmo silencioso do tempo. 
 
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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