Há momentos em que a vida parece reduzir-se a um céu fechado. As nuvens se acumulam, pesadas, e nos fazem acreditar que a luz se perdeu para sempre. O primeiro obstáculo, então, assume proporções desmedidas: não é apenas uma dificuldade, mas um anúncio de fracasso, um convite silencioso à desistência. É justamente aí que a esperança é mais necessária — e, paradoxalmente, mais difícil de sustentar.
Não desanimar não significa ignorar a dor ou fingir que o peso não existe. Significa reconhecer o obstáculo como parte do caminho, não como o fim dele. Todo percurso autêntico exige travessias, e cada nuvem carrega em si o movimento do tempo: ela não é imóvel, não é eterna. A natureza nos ensina, com paciência, que o céu nunca deixa de ser céu por estar encoberto. Ele permanece lá, intacto, mesmo quando não o vemos.
Parar no primeiro obstáculo é aceitar uma narrativa incompleta sobre si mesmo. É acreditar que aquilo que surge diante de nós define, de forma definitiva, quem somos e até onde podemos ir. Seguir em frente, ao contrário, é um ato de fé silenciosa: fé de que somos mais largos do que o medo, mais resistentes do que a incerteza, mais profundos do que o instante difícil que atravessamos.
A esperança não nasce da ausência de problemas, mas da confiança de que eles não têm a última palavra. Ela se constrói no passo seguinte, mesmo quando esse passo é pequeno, trêmulo, quase imperceptível. Avançar, nessas condições, é um gesto de coragem íntima: continuar apesar do cansaço, caminhar apesar da dúvida, acreditar apesar da noite.
Assim, quando as nuvens parecerem densas demais, lembre-se: elas não anulam a luz, apenas a ocultam. Persistir é permitir que o tempo faça seu trabalho, que o céu se reorganize, que o brilho retorne. Seguir em frente com esperança e fé é confiar que, após a travessia, não seremos os mesmos — seremos mais inteiros, mais conscientes e, sobretudo, mais vivos.
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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