A beleza transitória da matéria passa depressa. Ela cintila, seduz, ocupa o olhar por um instante — e então se esvai. Como as flores que desabrocham ao amanhecer e, antes do pôr do sol, já iniciam seu retorno silencioso à terra, a beleza externa é um acontecimento breve, quase um sussurro no tempo. Ela existe para ser contemplada, não para ser possuída.
A matéria, quando bela, ensina sobre o instante. Seu perfume, sua forma e seu brilho são convites para a presença, jamais garantias de permanência. Quem se apega apenas ao que é visível acaba preso à frustração inevitável do desaparecimento. O tempo, paciente e imparcial, dissolve tudo o que foi moldado apenas para agradar aos sentidos.
Por isso, convém aprender a sondar a beleza interna das pessoas com quem convivemos. Essa beleza não se revela de imediato. Ela não se impõe ao olhar, nem busca aplauso. Mora nos gestos repetidos, na ética silenciosa, na capacidade de sustentar o outro quando não há recompensa visível. É uma beleza que não precisa ser notada para existir.
As pedras, embora ásperas e muitas vezes ignoradas, atravessam séculos realizando suas tarefas: sustentam pontes, marcam caminhos, erguem cidades, guardam memórias. Não encantam pelo perfume, mas pela fidelidade ao seu propósito. Permanecem. Resistentes ao tempo, tornam-se testemunhas do que passa.
Assim também são certas pessoas. Podem não brilhar aos olhos apressados, mas sustentam lares, histórias e afetos com a mesma firmeza das rochas antigas. Sua beleza está na constância, na responsabilidade assumida, na coragem de permanecer quando tudo convida à fuga.
Talvez a maturidade do olhar esteja em reconhecer que a flor ensina sobre a delicadeza do agora, enquanto a pedra ensina sobre o valor da permanência. Uma não anula a outra, mas a vida exige discernimento para não confundir encanto com essência. No fim, é a beleza que resiste — mesmo sem perfume — que sustenta o mundo.
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

Nenhum comentário:
Postar um comentário