Escrever é um ato paradoxal: ao mesmo tempo íntimo e expansivo. É íntimo porque nasce de dentro — de memórias, percepções e sentimentos que às vezes nem sabíamos que estavam lá. É expansivo porque, ao ganhar forma em palavras, aquilo que era apenas nosso passa a habitar o mundo, tocando outros de maneiras que não podemos prever.
O prazer da escrita não está apenas no resultado final, mas no próprio processo: no momento em que uma frase se encaixa perfeitamente, no instante em que uma imagem surge tão viva que parece que podemos tocá-la, no suspiro de alívio ao capturar uma emoção fugidia antes que escape. É como moldar argila invisível, sentindo que cada palavra acrescentada aproxima a obra de um sentido mais profundo — ainda que esse sentido seja apenas o de existir.
E há algo quase secreto nisso: escrever é conversar consigo mesmo, mas com a ousadia de deixar a porta entreaberta para que o outro ouça. É dar forma ao caos interno, transformar dor em beleza, memória em história, e silêncio em voz. O prazer está em saber que, mesmo que ninguém leia, você já se encontrou nas linhas que traçou.
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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