Ler é um prazer que escapa de qualquer descrição simples, porque não se esgota na palavra “gostar” ou “entretenimento”. Ler é, antes de tudo, um mergulho.
Quando abrimos um livro, não apenas percorremos frases impressas, mas atravessamos portais invisíveis. Cada palavra é uma chave, cada página, uma porta. Há um instante quase mágico em que o mundo ao redor se dissolve: a cadeira onde estamos sentados deixa de existir, o barulho da rua se apaga, o relógio perde a força de medir o tempo. E então, somos transportados — para dentro de nós mesmos e, ao mesmo tempo, para fora de tudo o que já fomos.
O prazer da leitura é também a experiência da pluralidade: ser muitos sem deixar de ser um. Ao ler, podemos sentir o amor de um personagem, o medo de outro, a coragem de alguém que nunca existiu, mas que, de certo modo, passa a existir em nós. É como se o livro emprestasse corações, olhos e memórias que jamais teríamos sozinhos.
Além disso, há a intimidade silenciosa do ato de ler: ninguém precisa ver o que acontece dentro de nós quando uma frase nos corta ou uma metáfora nos ilumina. É um prazer solitário, mas paradoxalmente partilhado — porque cada leitor de um mesmo livro caminha por um labirinto parecido, ainda que com pegadas únicas.
Ler é bom porque nos expande. Porque nos lembra de que somos inacabados, e cada história é uma peça que se encaixa nesse quebra-cabeça sem bordas que é o ser humano. Porque nos dá a chance de viver mil vidas antes que a nossa termine.
Talvez por isso seja indescritível: porque ler é, ao mesmo tempo, ser, sentir e sonhar.
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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