“Guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (Apocalipse 3:11)
A coroa, na linguagem bíblica, não é apenas um símbolo de glória futura, mas da dignidade, da fé e da vitória que cada pessoa carrega em sua caminhada espiritual. Guardar o que se tem não se refere somente a bens ou talentos, mas sobretudo à fé, à esperança e ao amor que foram cultivados ao longo da vida.
O aviso é claro: há forças externas e internas que podem tentar nos desviar — o cansaço, as tentações, a pressa, a indiferença, a frieza espiritual, a voz dos outros ou até mesmo nossas próprias dúvidas. O perigo maior não é apenas perder a coroa, mas entregá-la pouco a pouco, sem perceber, ao deixar que o essencial se dilua no cotidiano.
Guardar o que tens é vigiar, é manter firme o coração no que realmente importa, é não negociar aquilo que é eterno por aquilo que é passageiro. É lembrar que a coroa não é imposta por reis humanos, mas recebida do próprio Cristo como recompensa da fidelidade.
“Guarda o que tens, para que ninguém roube a tua coroa” também pode ser lido como uma metáfora da vida interior. A coroa não é apenas um prêmio religioso, mas a representação do que há de mais íntimo em nós: dignidade, coerência, fidelidade a si mesmo.
Guardar o que tens significa não permitir que a pressa do mundo, as pressões externas ou as ilusões de poder e reconhecimento esvaziem o que é essencial. O que se possui de mais precioso não é visível — é a lucidez, a consciência, o sentido que damos à vida. A coroa, portanto, é a integridade: aquilo que nos torna inteiros diante de nós mesmos.
O roubo da coroa não acontece por violência repentina, mas pelo desgaste silencioso. É o hábito de se render ao que não acreditamos, de viver segundo expectativas alheias, de esquecer valores por conveniência. Cada pequena concessão abre espaço para que a coroa se torne apenas um enfeite vazio.
O texto bíblico visto do ponto de vista filosófico nos lembra de que o verdadeiro poder está em vigiar a própria alma. Guardar o que temos é permanecer fiéis ao que nos constitui, mesmo quando o mundo oferece atalhos fáceis. Pois nada é mais trágico do que chegar ao fim da caminhada e perceber que se conquistou muitas coisas, mas se perdeu a própria coroa.
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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