sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

O homem que ameaçou chutar o rosto de meu pai

 
    Depois de alguns dias longe dos meus pais por motivo de isolamento, acabei passando na casa deles hoje de manhã para vê-los. Entre matar a saudade e ouvir as boas histórias de meu pai eu aproveitei para observar mais um pouco da sua sabedoria. Eu sei que às vezes pode até parecer que não estou ouvindo, mas sempre consigo extrair algo valioso em sua fala. Quem conhece o meu pai sabe que ele fala muito. Tem muitas histórias e o sonho dele era ter sido escritor. Desejava ele deixar muitos escritos. No entanto, essa tarefa coube a mim. 
 
    Na conversa de hoje teve uma experiência que ele contou que me chamou a atenção e quero compartilhar com meus leitores. Trata-se de uma evangelização um pouco diferente. Ele conta que no início de sua fé em Cristo foi movido por uma paixão ardente pela propagação do evangelho de Jesus Cristo. No entanto, não tinha muito conhecimento e nem o manejo para abordar as pessoas. Falava o que vinha na mente e, em alguns casos isso incomodava as pessoas que o ouvia. 
 
        Um certo homem (ele falou o nome, mas prefiro não citar nomes) passava todas as manhãs no local onde ele trabalhava para entregar leite na vila. Meu pai conta que começou a falar com esse homem sobre a sua salvação. Perguntava-lhe se ele sabia para onde estava indo e dizia-lhe que, caso não aceitasse a Jesus, ele iria para o inferno. Sim. É isso mesmo. Inferno! Logicamente que ninguém gosta dessa afirmação. Inferno é uma palavra muito pesada. Todas as manhãs quando o homem vinha em sua carroça, meu pai diz que o parava e segurava na carroça enquanto olhava para o homem no alto e afirmava-lhe que se não se arrependesse de seus pecados estaria indo para o inferno. 
 
    O homem, que anos depois se converteu ao evangelho, contou-lhe que um certo dia, já cansado dessa abordagem nada ortodoxa, resolveu no seu íntimo que, se fosse abordado naquele dia iria desferir um chute no rosto de meu pai e depois passar com a carroça por cima dele. Era um homem muito maior do que o meu pai e, além disso, estava em uma posição superior onde poderia ter uma vantagem no seu intento. Acontece que, relatou ele, no momento da abordagem ele queria fazer isso, mas sua perna simplesmente não respondeu ao reflexo de sua mente. Parecia anestesiado. E mais uma vez teve que ouvir a palavra dura sobre o inferno. Isso, com o passar do tempo, o fez refletir sobre sua situação. O homem se converteu e morreu sendo crente em Jesus. 
 
    Meu pai relata esse fato e sente alegria em ter falado com sinceridade ao homem. Isso nos leva a uma reflexão mais profunda sobre a nossa vida. Estamos anunciando o verdadeiro evangelho de Jesus Cristo ou apenas um evangelho de prosperidade e bênção? A ideia não é sair condenando ninguém ao inferno, mas devemos, sim, falar do amor de Deus e, também, do juízo. Afinal, o Senhor deseja que todos venha ao conhecimento da verdade. Que Deus em Cristo possa nos abençoar sempre! 
 
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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