Há uma ilusão sutil que nos acompanha: a de que a vida está sempre lá fora, nas coisas que acontecem, nas metas alcançadas, nas tarefas cumpridas. Vivemos como se a existência fosse um projeto a ser finalizado, uma lista de pendências que, um dia, finalmente, nos concederá paz. Mas a verdade é que enquanto corremos, algo essencial permanece esquecido: nós mesmos.
Desacelerar não é apenas diminuir o passo, mas suspender o automatismo. É questionar o porquê de tanta pressa. É reconhecer que o tempo que temos é finito, e ainda assim, nos comportamos como se fosse eterno.
Ao olhar para dentro, deparamos com um território desconhecido: pensamentos que evitamos, sentimentos que sufocamos, desejos que não ousamos nomear. E então surgem as perguntas que realmente importam:
O que, de fato, é essencial?
Estou vivendo de acordo com aquilo que acredito?
Quais verdades estou ignorando por conveniência?
Que tipo de silêncio tenho medo de ouvir?
Fazer as perguntas certas é um exercício filosófico, um ato de desinstalar as certezas fáceis e abrir espaço para a dúvida criadora. Não se trata de encontrar respostas rápidas, mas de habitar o próprio enigma.
Desacelerar é escolher a profundidade num mundo de superficialidades. É perceber que a vida, antes de ser um caminho a percorrer, é um instante a ser compreendido. Não basta chegar ao destino se nunca estivemos realmente presentes na jornada.
Talvez o sentido não esteja no que conquistamos, mas no modo como aprendemos a olhar. E talvez, só talvez, a maior viagem seja essa: o retorno para dentro de nós.
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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