A infelicidade daquele que aprendeu a ler, mas não gosta da leitura, é a tristeza de quem recebeu uma chave, mas nunca quis abrir porta alguma.
Saber ler é como ganhar olhos novos: a possibilidade de enxergar além do imediato, de entrar em outros mundos, ouvir vozes distantes, dialogar com os mortos e nascer de novo em cada página. Mas quando a leitura não encanta, essa dádiva se transforma em peso — uma habilidade oca, como saber voar e preferir rastejar.
É uma infelicidade silenciosa, talvez imperceptível. Não dói como uma ferida aberta, mas se faz sentir na aridez da imaginação, na limitação do pensamento, no vazio que se disfarça de tédio.
Quem lê por obrigação vê palavras; quem lê por prazer vê ideias se movendo, metáforas dançando, o mundo se desdobrando como um mapa vivo. Quem não gosta de ler aprendeu o idioma dos deuses, mas prefere o silêncio dos cômodos trancados.
E talvez o mais triste não seja o que essa pessoa perde, mas o que jamais saberá que poderia ter sido.
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense
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