quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Ninguém pede para ser roubado

    Estava eu diante da autoridade policial relatando os fatos. Acabara de saber que tinha sido furtado. Alguém havia subtraído de meus bens. Na minha distração e correria do dia a dia havia esquecido de trancar o carro e o larápio, aproveitando desse descuido, levou minha mochila com todos meus materiais escolares, livros, notebook e minha carteira com todos os meus documentos. Um transtorno que não desejo para ninguém. Então, logicamente uma das primeiras medidas a se tomar numa situação dessas é procurar o CISC para registrar um Boletim de Ocorrências. 
 
    Pois bem, lá estou eu diante da autoridade policial. Uma vítima de um sistema selvagem. Ele me pergunta como aconteceu e o que levaram de mim. Relato o acontecido e ele olha para mim e diz: "Também, estava pedindo para ser roubado!". Respirei fundo na hora. Afinal, as coisas já não estão boas e, se for falar o que estou pensando, ele pode não entender e as coisas ficarem piores ainda. No entanto, fiquei meditando sobre isso. Essa fala do policial é uma fala que, infelizmente, é corriqueira. 
 
    Imaginei ali no meu lugar uma mulher que acaba de ser violentada por alguém e o policial perguntando para ela: "Onde você estava e o que estava usando?" e após a resposta da mesma ele pondera: "Também, estava pedindo para ser estuprada!" O fato é que está enraizado em nossa sociedade que a culpa é sempre da vítima. Entendo que dei uma parcela de contribuição para o meliante, mas isso não o isenta de ser o culpado. Ele me furtou bens materiais que só tem valor para mim. Eu estava estacionado na calçada de minha casa. Minha propriedade. O Estado deveria me dar a segurança. No entanto, na visão do policial, eu estava pedindo para ser roubado. 
 
    Ninguém pede para ser roubado. Ninguém! Agora é engolir o choro, esperar que o larápio tenha o mínimo de consideração e veja que os meus escritos, poesias, textos e reflexões que estão nos cadernos, nas agendas e nos pendrives, só tem valor para mim. 
 
    Quanto ao policial na sua cadeira de investigador que ele possa olhar as vítimas de uma outra forma e não com o olhar preconceituoso de uma sociedade elitista, racista, machista e patriarcal como a nossa. Quanto a mim, continuarei fazendo o que faço de melhor: reflexões! 
 
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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