Fugir nem sempre é um ato de covardia. À luz do estoicismo, pode ser um gesto profundamente racional — um movimento interior em direção à liberdade. Fugir, quando necessário, é recusar-se a permanecer preso aquilo que destrói a alma: ambientes tóxicos, hábitos autodestrutivos, expectativas irreais impostas por outros. É um desapego ativo, uma renúncia à ilusão de controle sobre o que não está em nossas mãos.
Epicteto ensinava que a única coisa verdadeiramente nossa é nossa vontade. Fugir, nesse sentido, pode ser o primeiro passo para exercê-la com coragem. Não se trata de correr do dever, mas de correr em direção ao que está de acordo com a razão, àquilo que permite florescer em conformidade com a natureza.
A fuga verdadeira, então, não é para longe do mundo, mas para dentro daquilo que é essencial. É afastar-se do ruído para ouvir o que é sereno. É o abandono da prisão voluntária do orgulho, da vaidade, do medo do julgamento. Fugir do que nos corrói pode ser o mais autêntico movimento de amor pela própria vida — não para poupá-la do sofrimento, mas para devolvê-la à sua integridade.
Portanto, fugir, quando feito com consciência e propósito, não é o contrário de coragem, mas a sua forma mais lúcida. É escolher, como diria Sêneca, aquilo que não nos torna escravos. Fugir, sim, pode ser o primeiro passo para viver — não de qualquer forma, mas com dignidade.
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense
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