sexta-feira, 9 de maio de 2025

A força do coração no caos

    O caos, por definição, é ausência de ordem, ruptura das certezas, desintegração do que julgávamos estável. Diante dele, o ser humano costuma vacilar: perde o chão, o rumo, o sentido. No entanto, é justamente nesse abismo de incertezas que algo profundo pode emergir — uma força silenciosa e invisível, que habita o centro do peito: a força do coração. 
 
    Os antigos filósofos já intuíram que a alma não se molda no conforto, mas na provação. Heráclito nos lembrava que "o conflito é pai de todas as coisas", e Nietzsche nos provocava a abraçar o caos interior como condição para gerar uma estrela dançante. O coração, nessa lógica, não é apenas o símbolo do afeto, mas o núcleo da resistência, do sentido que se recria quando tudo parece desmoronar. 
 
    Quando a vida é invadida pelo imprevisível — uma perda, uma dor, um rompimento — somos convocados a ir além da mente racional e mergulhar na profundidade do sentir. É aí que o coração revela sua força não como dureza, mas como coragem sensível: a capacidade de amar mesmo ferido, de confiar mesmo sem garantias, de seguir mesmo sem mapa. 
 
    Essa força que nasce do caos não é grito, é pulsar. Não é ilusão de controle, mas aceitação criadora. Ela nos lembra que somos frágeis, sim, mas também infinitamente capazes de renascer. Como a semente que precisa ser enterrada na escuridão para romper a terra e florescer, o coração também precisa atravessar seus invernos para descobrir sua primavera. 
 
    No fim, talvez o caos não destrua: ele revela. Mostra quem somos quando não temos mais máscaras. E quem aprende a viver com o coração desperto no caos, não teme mais o escuro — pois já conheceu a luz que nasce de dentro. 
 
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

Nenhum comentário:

Postar um comentário