sábado, 8 de janeiro de 2022

O repouso de Agostinho


    Na confluência dos rios que circundavam o jardim, formula o homem uma pergunta que se avultaria como o maior dilema da raça: Como reatar a comunhão com o Criador?" Tinha início, naquele momento, uma busca que não era somente busca. Mas angústia e procura. Um sentimento que nem a mesma morte pode sufocar. 

    Eis como o doutíssimo pastor de Hipona retrata a alma de Adão lançado da presença de Deus: "Quem me dera repousar em Vós! Quem me dera que viesses ao meu coração e o inebriásseis com a vossa presença, para me esquecer de meus males e me abraçar convosco, meu único bem!". 

    Ansiando por um repouso, tenta o homem e divisar o seu Criador no labirinto da consciência. Mas dizia-se prender pelos enganos do coração e pelas galas da justiça própria. Com a mesma solicitude, contempla a natureza. Acaba, porém, adorando mais a criatura do que o Criador. Em seguida, volve o olhar ao infinito e faz de cada estrela um deus e uma abominação de cada astro. Não satisfeito e, agora, mais ferido, entrega-se à filosofia. Pobre homem! A filosofia incita-o a amontoar perguntas e erigir monumentos à dúvida. Sócrates e Aristóteles nada lhe respondem: eles mesmos tateiam o elo perdido. Buda e Mêncio também nada fazem. Quanto a Cartesius, só está cônscio da própria existência. 

    O bondoso Deus não nos deixaria, porém, naufragar neste mar revolto. Em meio às procelas que se abatiam sobre a fragilidade de nossas almas, firma-nos um horizonte. E, a sua Palavra descreve o arco da aliança partida. Através da Bíblia, redescobrimos a existência de um terno e compassivo Pai. Conscientizamo-nos de que Ele está a comandar todas as coisas. A Palavra de Deus é o fôlego que nos faltava. Sem esse alento, muitas perguntas e nenhuma resposta. E, agora, como diria Agostinho, repousa nosso coração na bondade do Eterno, pois Ele nos fez e dEle somos. 

Texto: Claudionor Corrêa de Andrade.

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