terça-feira, 20 de abril de 2021

Paraíso Perdido - Canto I

    A desobediência do homem, resultando-lhe daqui a perda do Paraíso em que fora colocado; a Serpente, ou antes Satã dentro da Serpente, motivou essa desgraça, depois que ele, revoltando-se contra Deus e incluindo em seu partido muitas legiões de anjos, foi expulso do Céu e arrojado ao Inferno com toda essa multidão por ordem de Deus. Depois lança-se logo o poema para o meio do assunto, e mostra Satã com seus anjos dentro do Inferno, descrito não no centro da criação (porque Céu e Terra devem então supor-se ainda não feitos), mas nas trevas exteriores mais propriamente chamadas Caos. 
 
    Ali Satã, boiando com seu exército num mar de fogo, crestados todos pelos raios e perdido o tino, afinal torna a si como de um letargo, chama pelo que era o seu imediato em dignidade e poder, e que ali perto jazia; conferem ambos acerca de sua miserável queda. Satã brada por todas as suas legiões que até então se conservavam na mesma confusão e letargo: levantam-se elas; mostra-se o seu número e ordem de batalha; dizem-se os nomes de seus principais chefes que correspondem aos ídolos depois conhecidos em Canaã e países adjacentes. 
 
    Satã dirige-lhes a palavra, anima-os com a esperança de ainda reconquistarem o Céu, e por fim noticia-lhes que serão criados um novo mundo e nova qualidade de criaturas, atendendo a uma antiga profecia ou rumor em voga pelo Céu (pois que, segundo a opinião de muitos antigos padres, existiam os anjos muito antes da criação visível). Para achar a verdade dessa profecia e o que se há de fazer depois, ele convoca uma plena assembleia. Procedimento de seus sócios. 
 
    O Pandemônio, palácio de Satã, ergue-se subitamente construído no Inferno; os pares infernais ali se assentam em conselho. 
 
Milton, John. Paraíso Perdido 
 
Postado por: Odair José, Poeta Cacerense
 
Veja a Introdução

Nenhum comentário:

Postar um comentário