quarta-feira, 10 de setembro de 2025

A compaixão de Jesus

    A compaixão de Jesus pelos necessitados não é apenas gesto, mas revelação. Não se trata de piedade distante, nem de esmola lançada da altura de um trono, mas de um mergulho no abismo humano. Ele não se aproximava dos pobres, dos doentes e dos excluídos para ser adorado por eles, mas para tocá-los no ponto em que a dor se tornava silêncio, onde a dignidade parecia perdida. 
 
    A compaixão, em sua essência, é enxergar o outro como parte de si — e Jesus a viveu como se fosse respiração. Cada cura era um ato de restituição, cada palavra era uma ponte, cada olhar um convite a existir de novo. Enquanto muitos viam apenas margens — os leprosos, os famintos, as mulheres esquecidas, os cegos sem nome —, Ele via o centro. 
 
    Filosoficamente, a compaixão rompe a lógica da troca. Não é moeda, não é cálculo, não é benefício. É excesso, derramamento, algo que desobedece à ordem do mundo. E nessa desobediência está a sua força: a compaixão não apenas consola, mas transforma. 
 
    Poeticamente, poderíamos dizer que a compaixão de Jesus era como um rio que, ao passar, não apenas matava a sede, mas ensinava a sede a ser fonte. Porque quem era tocado não recebia apenas alívio; recebia também um chamado para viver e amar de maneira nova. 
 
    Assim, contemplar essa compaixão é ser confrontado: não basta admirá-la de longe — ela nos chama a repetir o gesto, a ver o invisível, a tocar o intocável, a amar onde não há vantagem. 
 
    Pois, no fundo, talvez a verdadeira necessidade do necessitado seja lembrar que ele nunca deixou de ser humano. 
 
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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