segunda-feira, 3 de abril de 2023

Olhando para a direção errada - O mal exemplo de Davi

    “Não porei coisa má diante dos meus olhos; aborreço as ações daqueles que se desviam; nada se me pegará.” Salmos 101.3. 
 
    INTRODUÇÃO   
 
    A forma como olhamos as coisas que nos cercam, como também a ocasião em que estamos, pode ser um meio pelo qual seremos tentados. Precisamos estar vigilantes, pois a ocasião e lugar não podem se tornar um elemento que facilite a ação de Satanás em nossas vidas. Mesmo sendo pessoas a quem o Eterno salvou pela sua graça, não estamos isentos de ocupar nossas mentes e o nosso olhar com aquilo que não agrada a Deus, por isso precisamos estar sempre atentos.     
 
 

    I. NO TEMPO DA GUERRA, OCIOSO   
 
    1. O homem segundo o coração de Deus. Ao estudarmos a respeito da tentação e queda de Davi, é preciso dizer que, na época, ele não era um jovem com pouca experiência devida, e sim um rei coroado e experiente em batalhas. A Palavra de Deus faz referência a ele como um homem segundo o coração do Senhor (At 13.22). Em seu histórico, Davi tinha diversas vitórias contra seus inimigos, vários livramentos da parte de Deus, o hábito de consultar ao Senhor para tomar certas ações e o fato de congregar sob sua liderança homens desajustados, transformando-os em valorosos. Some-se a essa lista o fato de trazer de volta a Arca de Deus para Jerusalém e de buscar fazer com que o povo adorasse ao Senhor. Ele também foi chamado de poeta, compositor e profeta. Davi, sem dúvida, tinha habilidades e era dono de um currículo diferenciado para um rei daqueles dias. 
 
    2. Um homem de ação. A Palavra de Deus nos mostra que a tentação de Davi aconteceu em um momento de guerra. Naás, rei dos amonitas, faleceu, e seu filho, Hanum, reinou em seu lugar. Davi se lembra de que Naás o havia tratado com bondade (2Sm 10.2), e decide enviar mensageiros para consolar o novo rei. Hanum, inexperiente, ouve seus conselheiros, que acusam os mensageiros de Davi de serem espiões. O rei rapa metade da barba dos homens enviados por Davi, além de cortar-lhes as roupas de maneira que ficaram muito envergonhados. Como esses homens retornariam a Israel naquele estado? Davi, sabendo do ocorrido, pede que os homens fiquem em Jericó, até que suas barbas cresçam. Esse foi um ato de grande humilhação para com os mensageiros enviados por Israel. Como se isso fosse pouco, os filhos de Amom contrataram mercenários sírios, para atacarem Israel, num total de 33.000 homens. A guerra estava a caminho e Davi precisava se preparar para esse momento. 
 
    3. No tempo em que os reis saem para as guerras. É notório que o rei Davi havia sido generoso para com a memória do rei Naás, mas sua ação foi interpretada de forma errada pelos amonitas, e isso lhes custaria caro. Davi havia vencido muitos inimigos na sua jornada e Deus o havia preservado de ser morto por Golias e Saul. Ele derrotou os filisteus, moabitas, e também os arameus. Suas vitórias lhe deram prestígio como rei, e paz para a nação. Mas logo todas essas benesses podem ter deixado o rei em uma situação de despreparo para o que haveria a seguir. A Palavra nos diz que a queda de Davi se deu “no tempo em que os reis saem para a guerra” (2Sm 11.1), e podemos compreender esse momento como um período em que os monarcas conduziam suas tropas contra seus inimigos, para preservar a soberania de seus países. Não era um momento de descanso, mas de alerta, pois vidas estariam em jogo, e o nome do Senhor, numa guerra, seria glorificado ou blasfemado. 
 
 

    II. OLHANDO NA DIREÇÃO ERRADA   
 
    1. Passeando pelo terraço. A Palavra de Deus nos diz que Davi estava passeando pelo terraço do seu palácio, e naquele lugar, viu-se observando uma mulher tomando banho (2Sm 11.2). Isso era, com certeza, algo incomum. Por sua vez, Davi estava em um lugar alto, e quem está em um andar mais alto em um prédio consegue ver quem está nas partes mais próximas do nível do chão. Aquela visibilidade chamou a atenção de Davi, e foi o começo de sua queda. Bate-Seba era “mulher mui formosa à vista” (2Sm 11.2), e o coração do rei havia sido envolvido pelo desejo. Não raro, o olhar pode ser a fonte de sérias tentações. O texto bíblico nos dá a ideia de que a contemplação de Davi não foi por um momento rápido, acidental, mas uma ação que encheu o seu coração, que durou tempo suficiente para que ele desejasse a mulher de outro homem. 
 
    2. O adultério consumado. Antes de dar prosseguimento ao seu plano, Davi pergunta a algumas pessoas do palácio quem era aquela mulher, e lhe disseram que era “Bate-Seba, filha de Eliã e mulher de Urias, o heteu?” (2Sm 11.3). Ele soube que ela tinha uma família, e um marido. Mesmo assim, essas informações não frearam o ímpeto do rei. Ele envia mensageiros para falarem com a mulher a fim de que ela fosse para o palácio, onde o rei a esperava. Ali, Davi consumou um dos seus pecados. 
 
    3. Matando um marido e soldado honrado. Não bastou que Davi tenha ficado com a mulher de outro homem. Aquela relação sexual ilícita gerou uma vida, e Bate-Seba foi falar com Davi que estava grávida. O período fértil de Bate-Seba é relatado: “e já ela se tinha purificado de sua imundícia” (2Sm 11.4). Sabendo que o esposo dela estava na guerra, Davi tentou ocultar seu pecado trazendo Urias de volta para casa. Ocorre que a tentativa de esconder o seu pecado não deu certo. Urias, em respeito aos seus colegas que estavam travando uma guerra pelo povo de Deus, não se deitou com sua esposa grávida. Ele chega a mencionar a Arca de Deus, que estava em uma tenda, e não vai para sua casa. Mesmo tendo Davi embebedado Urias, o soldado se manteve em seu propósito. A integridade de Urias incomodou Davi, e o rei decidiu tornar Bate-Seba viúva. Urias logo seria morto em combate, lutando em prol do reino de Israel, e Davi ganharia mais uma esposa, desta vez, já grávida. Esse foi o segundo pecado de Davi. 
 
 

    III. CONSEQUÊNCIAS DA AÇÃO DE DAVI   
 
    1. O que Davi fez pareceu mau. A narrativa de 2 Samuel parece ser focada totalmente no ato de Davi, sem que houvesse qualquer intervenção divina. Entretanto, Deus não estava ausente, e mesmo amando Davi, julgou-o por três motivos: 1) O Senhor ungiu Davi, e deu a ele posses, bens e o reino de Israel. Mesmo assim, por causa de sua lascívia, desprezou “a palavra do Senhor, fazendo o mal diante dos seus olhos?” (2Sm 12.9). 2) Davi havia matado Urias e tomado a viúva. Essa parecia ser uma prática dos tempos antigos, onde homens que tinham poder, para não incorrerem em adultério, matavam ou mandavam matar o esposo da mulher casada para depois ficarem com ela. 3) Davi havia matado um de seus melhores e mais íntegros soldados, e fez isso à traição, ordenando que Urias fosse colocado na frente da batalha e deixado para trás, sem possibilidade de resgate (2Sm 11.6-11). A falta de controle sobre sua cobiça fez de Davi um homem digno de uma séria punição. A gravidade do ato do rei se conclui desta forma: “Todavia, porquanto com este feito deste lugar sobremaneira a que os inimigos do SENHOR blasfemem […]” (2Sm 12.14). Toda vez que um servo ou uma serva de Deus peca, o nome do Senhor é blasfemado. 
 
    2. A espada nunca mais se separará da tua casa. As duas consequências do pecado de Davi, equiparáveis aos dois pecados cometidos por ele, foram a perda da criança que iria nascer, e a contínua guerra que haveria na sua família. O bebê de Bate-Seba chegou a nascer, mas faleceu depois de sete dias, ainda que Davi tenha buscado ao Senhor pela vida da criança. Depois, a Bíblia nos mostra que houve no lar do rei um incesto (2Sm 13.1-36), um irmão matando outro irmão (2Sm 13.27,28) e Absalão, um dos filhos de Davi, deu um golpe de Estado e por pouco Davi não perde a vida (2Sm 14). Custou caro para o rei ceder à tentação. Entendemos que Davi não planejou cair em tentação, nem pensou em matar alguém no dia em que cometeu o adultério. Entretanto, um pecado tende a atrair outro, numa contínua sucessão de erros. 
 
    3. O contínuo cuidado que precisamos ter. Davi era um “homem segundo o coração de Deus” (At 13.22) e tal verdade significa duas coisas: que ele era uma pessoa que fazia o possível para agradar a Deus, que amava ao Senhor e que havia sido escolhido por Ele para uma grande obra e que mesmo sendo “segundo o coração de Deus”, Davi era um homem. Isso significa que ele estava sujeito a situações que poderiam deixá-lo vulnerável, e foi justamente isso que o fez cair. Ser um homem ou uma mulher de Deus não tira de nós a nossa humanidade e a tendência a fraquejar. Por isso, precisamos vigiar sempre como nos alertou o Senhor Jesus: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26.41). 
 
    CONCLUSÃO   
 
    A tentação de Davi nos mostra que ninguém está imune aos desejos do coração, e que um momento de falta de vigilância é suficiente para manchar toda uma história de vida. Também aprendemos que certos pecados têm consequências duradouras e mortais, e que podem ser evitados se, ao invés de estar ociosos, estivermos fazendo o que fomos chamados para realizar. Precisamos fixar o nosso olhar naquilo que Deus espera que façamos. 
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário