Vivemos em um tempo em que a opinião se tornou quase um reflexo involuntário. Opina-se antes de ouvir, reage-se antes de compreender, julga-se antes mesmo de perceber o que, de fato, está diante de nós. Nesse cenário, a opinião deixa de ser um gesto consciente e se transforma em um espasmo — rápido, ruidoso e, muitas vezes, vazio. A premissa de que nossa opinião deve nascer de um repouso interior é, portanto, um convite à desaceleração da mente e à reconquista da lucidez.
O repouso interior não é passividade, mas uma forma elevada de atenção. É o silêncio que permite distinguir o essencial do acessório, o real do ruído. Quando a mente está inquieta, tomada por impulsos, medos ou desejos de afirmação, ela não observa: reage. E toda reação apressada carrega mais de nós mesmos — nossas projeções, ressentimentos e preconceitos — do que daquilo que está sendo observado. Opinar a partir do repouso é, antes de tudo, um exercício de humildade: reconhecer que o real é mais complexo do que nossa primeira impressão.
A atenção ao real exige presença. Significa olhar os fatos sem a urgência de encaixá-los em narrativas prontas, ideológicas ou emocionais. O real raramente se oferece de maneira simples; ele pede tempo, escuta e disposição para lidar com ambiguidades. A pressa de julgar é, muitas vezes, uma fuga dessa complexidade. Julgar rapidamente nos dá a ilusão de controle, de superioridade moral ou intelectual, mas nos afasta da verdade. Onde há pressa, não há profundidade.
Resistir ao impulso de responder antes de compreender é um ato de maturidade intelectual e ética. O impulso quer vencer, marcar território, afirmar identidade. A compreensão, ao contrário, quer atravessar o problema, habitar a pergunta, suportar a dúvida. Uma mente que aprendeu a resistir não é fraca; é treinada. Ela sabe que nem toda provocação merece resposta imediata e que o silêncio, às vezes, é a forma mais honesta de pensamento em gestação.
Não há sabedoria na pressa de julgar porque a sabedoria nasce do encontro entre tempo e atenção. Julgar rápido é confortável, compreender profundamente é trabalhoso. Mas é nesse trabalho — lento, por vezes incômodo — que a opinião se torna responsável, enraizada e verdadeiramente nossa. Uma opinião consciente não busca aplauso, não se alimenta de reatividade; ela se sustenta na escuta, na reflexão e na coragem de, se necessário, mudar de ideia.
Assim, opinar deixa de ser um gesto automático e se torna um compromisso com a verdade possível daquele momento. Um compromisso que reconhece limites, aceita revisões e compreende que pensar bem é, antes de tudo, aprender a esperar.
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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