terça-feira, 16 de junho de 2020

O Obreiro aprovado por Deus


Por Odair José da Silva 

Esse texto tem por finalidade problematizar uma questão que perpassa minha mente há algum tempo, mas que se tornou mais efervescente nos últimos dias. O que me fez pensar sobre o assunto é a atual situação de alguns obreiros na casa do Senhor. Na verdade, o compromisso de cada um com o trabalho na Casa do Senhor é o que chama a atenção para a problemática desse texto. Sem a pretensão de acusar este ou aquele em particular, mas tecer um comentário sobre as formas que observamos os acontecimentos dos últimos dias. “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. II Timóteo 2.15. 

Muitos chamados, poucos escolhidos 

“Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos”. Mateus 22.14. Utilizando-me de uma das frases bíblicas mais conhecidas, muitos obreiros são chamados para a obra de Deus, no entanto, poucos são escolhidos. Isso, no meu ponto de vista, acontece porque é árduo o trabalho na seara do Mestre e a grande maioria acaba desistindo e não fazendo a coisa certa. Os obreiros chamados devem fazer a obra com diligência, com determinação e não se embaraçar com as coisas deste mundo. Neste sentido, muitos não conseguem cumprir as metas estabelecidas e deixam a desejar. Alguns permanecem levando as coisas pela metade, outros desistem de vez. Mas, devemos ter em mente que não queremos e nem podemos generalizar. Existem, sim, aqueles que batalha e persevera na graça de Deus e fazem a coisa certa. 

Obreiros medíocres 

“Se a humanidade tivesse contado somente com os rotineiros, os nossos conhecimentos não excederiam os que um avoengo hominídeo pudera ter tido. A cultura é o fruto da curiosidade, dessa inquietação misteriosa que convida a olhar para o fundo de todos os abismos. O ignorante não é curioso; nunca interroga a natureza”. (O Homem Medíocre) A mediocridade humana é patente aos olhos. Grande parcela da humanidade está no patamar da mediocridade. Uma pequena parcela se destaca e são gênios, mas esses são uma minoria. Outra parcela estão abaixo da média e são considerados imbecis. A grande maioria da humanidade está entre esses dois extremos. São medíocres. Neste sentido, podemos deduzir que os obreiros estão nesse patamar. No entanto, ser medíocre não quer dizer ser incapaz de fazer a obra de Deus. Se assim fosse, Deus não teria chamado os homens normais para fazerem a diferença neste mundo. É o que podemos deduzir dos grandes líderes registrado nas páginas da Bíblia e da História. Não eram gênios e, no entanto, causaram um grande impacto na humanidade. Exemplos clássicos: Moisés, Davi, Daniel, Paulo para não nos alongarmos na grande lista. 

Determinação 

O que esses homens tiveram de diferentes? Com certeza sua determinação. Ao ser chamado para a obra de Deus eles tiveram a humildade de se deixarem ser usado por Deus. Como diz um provérbio popular: Deus não chama os capacitados, mais capacita os chamados. Neste sentido, podemos deduzir que, a partir do momento em que somos chamados para a obra de Deus, devemos nos colocar na posição de receber a orientação de Deus para as nossas vidas. Acontece que, muitos, para não dizer a maioria, não querem ter essa humildade. Canta um hino e já acha que é um cantor, prega um sermão e já pensa que é um pregador. Aliás, pregadores têm aos montes por ai. O que falta mesmo são profetas usados por Deus. Homens cheios do Espírito Santo e dependentes da graça divina. O que vemos, então, são umas variedades de pregações sem sal, sem gosto. Capim seco para ovelhas rotas e doentes. Utiliza-se de jargões e modismos como receba, receba e nada da graça de Deus. Aproveitam-se do emocionalismo de uma grande parcela de povo inculto e utiliza-se de sensacionalismo para comover as massas e levá-las a acreditar que tudo o que fazem é de Deus. 

Senhor, Senhor! 

Esses são aqueles que um dia vão estar diante de Jesus e vão clamar: Senhor, Senhor, em teu nome fizemos maravilhas, curamos os doentes, e Jesus vai dizer: não vos conheço. Falsos mestres que visam apenas o lucro imediato e não a expansão do Reino de Deus. Que surrupiam as pele das ovelhas, comem da sua carne e causam um estrago muito grande ao Reino de Deus. O joio que cresce no meio do trigo. Mas, além destes, existem os medíocres e é este o tema do meu texto. 

Se é ensinar, que haja dedicação 

“Se é ensinar, que haja dedicação ao ensino”. Romanos 12.7. A Palavra de Deus é bem clara. Se é ensinar, que haja dedicação ao ensino. No entanto, o que vemos é uma gama muito grande de “ensinadores” e “pregadores” que falam coisas absurdas em nossos púlpitos e ainda são aplaudidos, muitas das vezes, por pessoas ingênuas como se aquilo fosse algo grandioso. Se voltarmos no tempo uns 30 anos, temos que considerar que a maioria dos crentes daquela época eram camponeses, pedreiros e donas de casa. O nível de compreensão era bem menor e não exigia tanto estudo teológico. Nos dias atuais a situação é outra bem diferente. Nas nossas igrejas temos pessoas cultas e estudadas frequentando nossos cultos. Não dá mais para tentar enganar com sermões “meia-boca” como vemos em alguns casos. Se não houver uma dedicação para ensinar, os sermões vão sair sempre sem sentido para os ouvintes mais aguçados. Não dá para aceitar que um professor de Escola Dominical venha para ensinar e fica lendo a lição e, pior ainda, dando justificativas de que não teve tempo para ler a lição durante a semana. 

Escola Dominical 

No meu ponto de vista, um professor de Escola Dominical que não lê sua lição todos os dias da semana e faça um estudo aprofundado do tema que vai lecionar no domingo não pode permanecer durante uma ou duas horas enganando o povo. Por isso vemos uma defasagem muito grande nas nossas escolas dominicais. A pessoa vai uma vez e não volta mais. Não há desculpas para casos assim nos nossos dias. Com a facilidade que a internet nos possibilita e a grande variedade de comentários bíblicos e enciclopédias existentes não dá para aceitar a desculpa de que o ensinador não pode preparar uma boa aula. 

Crescei na graça e no conhecimento 

“Antes, crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”. II Pedro 3.18. Por outro lado a Bíblia é categórica quando aborda a questão: crescei na graça e no conhecimento. É um conselho prático. Nem só na graça, isto é, na oração e consagração, pois isso torna a pessoa muito fanática e nem só no conhecimento, isto é, só na leitura, pois isto torna o indivíduo legalista. É preciso ter um equilíbrio para se obter sucesso na tarefa de ensinar a Palavra de Deus. Outro detalhe interessante é que o obreiro deve ter compromisso com a obra de Deus. Não fazer a obra de Deus relaxadamente. Maldito aquele que fizer a obra de Deus relaxadamente. Jeremias 48.10. E quantos vemos fazer isso nos dias atuais. 

Renúncia 

Para se ter êxito no ensino da Palavra de Deus é imprescindível uma vida de renúncia. Negar-se a si mesmo é requisito básico para um trabalho bem feito. Por isso o Apóstolo Paulo exortando Timóteo ilustra a figura do soldado, do atleta e do lavrador. II Timóteo 2. 4-6. O soldado faz de tudo para agradar quem o alistou para a função. O atleta tem que ter uma disciplina rigorosa se quiser ser bem sucedido na competição e o lavrador tem que ter uma persistência muito grande se quiser colher bons frutos. Tudo isso ilustra a labuta árdua que o ensinador da Palavra de Deus deve ter. Passar horas estudando a Bíblia, livros que auxiliam a leitura da Bíblia, notícias locais, regionais, nacionais e mundiais, além de um bom dicionário para auxiliar com as palavras difíceis. Tudo isso exige renúncia. Levantar mais cedo para orar e buscar a orientação de Deus sobre o assunto a ser abordado. Não é uma tarefa fácil ser obreiro. Por isso, muitos são chamados e poucos escolhidos. É como se fosse uma peneira. Só ficam os fortes. 

A seara é grande 

“Então, disse aos seus discípulos: A seara é realmente grande, mas poucos são os ceifeiros”. Mateus 9.37. O Senhor Jesus Cristo olhou para o mundo e exclamou: a seara é grande e são poucos os ceifeiros. Sim. São poucos os que estão dispostos a renunciar a si mesmo e dedicar na obra de Deus. São poucos os que não medem esforços para levar a Palavra de Deus onde tem um necessitado. São poucos os que não estão só interessados em pregar na igreja no culto de domingo a noite. São poucos os que querem, de coração, a expansão do Reino de Deus. A seara é grande e tem muito trabalho para ser feito. Mas, esse trabalho não pode ser feito de qualquer forma. Tem que haver dedicação, renúncia e comprometimento com a Obra de Deus. Paulo é um exemplo clássico de pessoa comprometida com o Reino de Deus. Precisamos urgentemente ter isso em mente. Não dá mais para vivermos uma vida medíocre e sem resultados. Não dá mais para nos contentarmos com o pouco que temos vistos em nossos cultos. Onde estão os corações inflamados de um Wesley, de Spurgeon, de um Moody? Exemplos lendários de dedicação ao Reino de Deus. De vidas devotadas à causa do Mestre. 

Obreiro aprovado 

Aquele que é dedicado na obra de Deus. Que faz as coisas com o coração alegre e diligentemente porque sabe que está fazendo para Deus. Esse é o obreiro aprovado. São poucos, mas ainda existem. Deus, no entanto, precisa de mais. Ele conclama obreiros que não almejem só as coisas terrenas, mas sim o Reino de Deus. Onde estão esses que vão levantar essa bandeira nesses últimos dias da Igreja na face da terra? O Senhor da seara está chamando. Quem quer ir por mim a procurar, almas que no mundo estão sofrendo? A quem enviarei e quem há de ir por nós? Procuro alguém que se coloque na brecha. Preciso de intercessores. O Senhor chama, o Senhor capacita. 

Trabalhando 

Os discípulos ao serem chamados estavam todos ocupados. Eram homens simples, mas estavam trabalhando. Estavam fazendo alguma coisa. Pescando, consertando as redes, coletando impostos, enfim, todos tinham uma ocupação. E todos se dedicaram em fazer o que o Mestre mandava-os fazer. Paulo fez muito mais do que qualquer um deles e atribui esse fato à graça de Deus. Tem que haver em nossos corações a chama pentecostal do comprometimento com a causa do Senhor. Nossos sermões e nossas mensagens não podem ser vazias e sem sal como está acontecendo em muitos lugares por ai. Não podemos nos conformar com este mundo e com os ventos de doutrinas que surrupiam a fé do povo de Deus. Não podemos aceitar esse evangelho falso propagado aos quatro ventos através da mídia e que prolifera nos nossos templos. Não podemos nos calar diante de tantas atrocidades teológicas a qual estamos expostos nos últimos dias. A tarefa não é fácil, mas temos que dedicar-nos em fazer o melhor para o nosso Deus. 

Desejo 

Como diz Henry “Eles devem manejar bem a palavra da verdade. Eles não devem inventar um novo evangelho, mas manejar bem o evangelho que é confiado ao seu depósito. Eles devem falar terror àqueles a quem o terror pertence, conforto a quem merece conforto; para dar a cada um o sustento a seu tempo”. (Matthew Henry) O meu desejo é que o Senhor desperte o maior número possível de obreiros determinados a fazerem a obra de Deus com amor e dedicação. Que não fiquem apenas presos aos rótulos e ambições de status. Que não sejam preguiçosos e indolentes em fazer a obra de Deus. Que não a façam relaxadamente. Que o Senhor levante obreiros dispostos a pagar o preço para uma boa mensagem de edificação para a Igreja. Obreiros que não tenha do que se envergonhar. Que maneja bem a Palavra de Deus. Esse é o desejo do meu coração.

Odair José da Silva é Professor de Escola Dominical da AD.

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