É engraçado como meu irmão, às vezes, parece distante. Tenho a impressão de que o corpo dele está aqui na fazenda, mais o pensamento está bem distante. Sei lá, pode só parecer impressão minha, mas acho que ele tem um desejo de ir embora daqui. Imaginar ele indo embora é algo que não gostaria. Lembro-me de quando erámos pequenos e ele, apesar de ser mais novo, sempre me protegia. Desde pequeno todos nós sabíamos que ele tinha um espírito valente. É um líder nato e com certeza conduzirá nossa propriedade quando nosso pai já não tiver mais força. Uma vez ele me disse que gostaria de conhecer o mundo.
- Você já imaginou o que tem além daquelas montanhas? - Ele me perguntou certa vez.
- Não faço ideia.
- Tenho vontade sair pelo mundo e descobrir coisas novas. Conhecer novas pessoas, novos lugares.
É, ele sempre teve um espírito aventureiro. Não duvido muito de que algum dia ele queira discutir isso com nosso pai. Mas, sei que temos tudo de que necessitamos aqui nesse lugar.
Lembro-me, também, de um dia em que ele estava chateado sobre ser o filho mais novo. Alguém tinha lhe dito que o filho mais velho sempre tem as honras da família. Disse a ele que isso não acontece porque nosso pai nos ama de forma incondicional.
- Você mesmo sabe que nosso pai sempre nos amou de igual forma. Ele é muito justo com relação a isso. Não fique com isso na cabeça. E, além disso, tudo isso aqui é nosso por igual. Com certeza, nosso pai vai dividir a fazenda em partes iguais para nós.
Quando disse a ele essas palavras até me pareceu que ele se acalmou. Mas, hoje sinto que ele está distante. Seu olhar revela esse distanciamento. Que Deus possa falar no coração dele e tirar toda dúvida e incerteza que porventura venha lhe afligir o coração.
Com esses pensamentos o irmão mais velho ohou para trás e viu o irmão que vinha trabalhando em silêncio. Ao longe, nuvens brancas davam um colorido especial ao céu azul. O sol já se declinava no horizonte e logo estaria encoberto pelas montanhas e a noite chegaria.
Texto: Odair
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