terça-feira, 24 de junho de 2014

O Filho Pródigo - Parte IV



Estavam sentados ao redor da fogueira que tinham feito no quintal. A noite era clara e as estrelas brilhavam no céu onde uma lua cheia dava o ar da graça. Jogou um graveto no fogo e viu as faíscas levantarem até o alto. Ouvia-se o crepitar do fogo e o cheiro da carne sendo assada. O dia tinha sido cansativo, mas eles sempre gostavam de se reunirem em volta da fogueira as noites antes de dormirem. Lá estavam os três a pensar. Isso sempre acontecia. Conversavam sobre o dia de trabalho, sobre as coisas que aconteciam e sobre o planejamento do futuro algumas vezes. Mas acontecia, não raramente, que ficavam alguns minutos sem trocarem uma palavra. Nesses momentos cada um estava envolto em seus próprios pensamentos.

- Pai! - A voz do filho mais novo tirou o velho dos seus pensamentos e o trouxe de volta à beira da fogueira.

- O que é?

- Eu quero a parte da minha herança, pois pretendo partir ao amanhecer. - Sua voz era confiante como se estivesse decidido e soubesse o que estava fazendo.

- Como assim, partir? Para onde você vai? - A voz do velho estava um pouco embargada e ele engolia seco. Por pouco as palavras não sairam.

- Pra onde eu ainda não sei. Qualquer lugar. Eu só quero viver a vida, descobrir coisas novas, andar por ai. Só quero sair daqui. Isso não é vida.

- O que está dizendo? - O irmão mais velho levantou abruptamente e quase gritando continuou – Você está louco? Olha como fala com o papai!

- Calma, meu filho – Disse o velho levantando-se e passando as mãos sobre os ombros do filho mais velho. - Não se preocupe. Vá dormir e deixe-me conversar com o seu irmão.

O jovem permanecia sentado observando o crepitar do fogo. O irmão mais velho foi para dentro de casa e o velho pai sentou-se próximo do filho.

- O que realmente quer fazer? - Perguntou-lhe.

 - Quero a parte da minha herança, pois vou partir logo ao amanhecer e não pretendo mais voltar aqui. Quero viver minha vida, novas aventuras. Quero conhecer o mundo.

- Mas, meu filho...

- Não, pai – Cortou-lhe o filho – Não precisa gastar seu tempo em me dar conselhos porque eu já tomei minha decisão, sou bem grandinho e sei o que quero para mim. - fez uma pausa, olhou para o rosto de seu velho pai e viu as lágrimas que rolavam de seu rosto já marcado pelo tempo. - Sei que o senhor sempre quis o nosso bem e eu nunca vou esquecer isso, mas não pretendo passar minha vida aqui nesse fim de mundo. Eu quero ir para a cidade, viver uma vida diferente.

- O mundo, meu filho...

 - Sim pai, eu sei o que o senhor vai dizer – Outra vez ele interrompe o velho – Vai dizer que o mundo é perigoso, que as pessoas são más, que aqui eu tenho de tudo e blá, blá, blá. Eu sei disso, mas quero ir embora e viver minha vida. A única coisa que quero é que reparta comigo a fazenda e me dê minha parte. O senhor pode fazer isso?

O velho ficou em silêncio por alguns segundos. Não sabia ao certo o que dizer.

- Se não tem outra alternativa e se você já tomou sua decisão, não resta outra coisa a fazer.

Levantou-se e pediu ao jovem que fizesse o mesmo.

- Dê-me um abraço. - Pediu.

O filho não se moveu.

- Sinto muito pai, mas eu não gosto de despedidas. Sabe como é, quem tem o coração mole é meu irmão. Eu sou durão. Não me sinto bem com essas coisas. Só quero ir embora, só isso.

Virou as costas e entrou na casa. O velho ainda permaneceu por um bom tempo sentado diante da fogueira até não haver mais fogo. As estrelas no céu agora brilhavam com mais vigor e um vento frio começa a soprar naquela noite. Com o coração partido de dor entrou na casa e assinou os cheques.

Texto: Odair

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