sábado, 1 de novembro de 2025

Um chamado renovado para servir a Deus

    A vida humana se renova a cada amanhecer. O sol que nasce não apenas ilumina o mundo, mas desperta a alma para um novo ciclo de possibilidades. “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos... renovam-se cada manhã” (Lamentações 3:22-23). Nesse verso está o coração da fé: cada dia é um recomeço, e cada recomeço traz novas razões para servir a Deus. 
 
    Servir a Deus não é um ato isolado, mas um modo de existir. O filósofo Søren Kierkegaard, ao refletir sobre a fé, dizia que o homem se realiza plenamente apenas quando se coloca diante de Deus em “relação absoluta”. O serviço a Deus, portanto, é mais do que obediência; é um movimento de amor e entrega que dá sentido à própria existência. 
 
    A cada dia, o ser humano se confronta com o tempo, com suas fragilidades e limitações. A filosofia de Agostinho de Hipona nos recorda que o tempo é um mistério: o passado já não existe, o futuro ainda não chegou, e o presente é o único instante em que podemos nos encontrar com Deus. É nesse “agora” que o serviço se concretiza. Servir a Deus hoje é reconhecer que o tempo é dom, e que cada respiração é uma oportunidade de gratidão. 
 
    A Bíblia reforça esse chamado cotidiano: “Este é o dia que fez o Senhor; regozijemo-nos e alegremo-nos nele” (Salmo 118:24). 
 
    Esse versículo é uma celebração do instante — a consciência de que o hoje é um presente divino. O filósofo Martin Buber, em Eu e Tu, diria que o verdadeiro encontro com o divino não acontece em uma abstração, mas na relação viva do momento presente — quando o homem se abre à presença de Deus em tudo o que é. 
 
    Quando despertamos e olhamos o mundo — a luz, o ar, as pessoas, as provações e até as dores — descobrimos novas razões para servir. A alegria de viver e o peso das dificuldades são ambos caminhos de aprendizado espiritual. Cada alegria revela a bondade de Deus, e cada desafio revela nossa necessidade d’Ele. 
 
    O próprio Cristo nos ensina sobre essa renovação diária: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me.” (Lucas 9:23). 
 
    Servir a Deus é um ato diário de renovação interior — um exercício de fé, esperança e amor. Cada dia traz uma nova cruz, mas também uma nova graça. A filosofia existencialista cristã e a teologia convergem aqui: o sentido da vida não está em possuir, mas em servir, em tornar o mundo um reflexo maior do bem que nos habita. 
 
    Cada amanhecer é uma epifania silenciosa — um convite para redescobrir Deus nas pequenas coisas. Quando compreendemos que viver é servir, e que servir é amar, percebemos que não há dia comum: todos são sagrados. Assim, o tempo deixa de ser mera passagem e se torna comunhão. E cada nova manhã, com sua luz e seus mistérios, se torna mais uma razão para dizer: “Eis-me aqui, Senhor, para fazer a tua vontade.” (Salmo 40:8) 
 
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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