terça-feira, 18 de novembro de 2025

A travessia intransferível

    Existem experiências na vida que são, por natureza, intransferíveis. Por mais que haja afeto, por mais que haja cuidado, há um limite onde o outro não pode mais ir por nós. Cada ser humano carrega dentro de si a responsabilidade de fazer sua própria travessia. 
 
    Caminhar com os próprios pés é mais do que um ato físico: é um exercício existencial. É o enfrentamento solitário diante das encruzilhadas da vida. Nenhum conselho, por mais sábio que seja, substitui a vivência. Nenhuma proteção, por mais bem-intencionada, anula a necessidade do confronto com a realidade. 
 
    É preciso sentir o peso das próprias escolhas, o sabor das próprias vitórias e o amargor das próprias quedas. É nessa luta silenciosa, entre o querer e o temer, entre o sonhar e o realizar, que o indivíduo se torna autor de sua própria história. 
 
    Há uma pedagogia oculta na dor e na dúvida, uma sabedoria que só se revela a quem tem a coragem de continuar, mesmo com os pés feridos. Caminhar sozinho não significa estar isolado, mas reconhecer que certos aprendizados só florescem no terreno da experiência direta. 
 
    A vida não oferece caminhos prontos. Cada um precisa abrir o seu, pedra por pedra, passo por passo, com o risco real de se perder, mas também com a liberdade de se encontrar. 
 
    No fim, é esse processo que nos ensina o mais essencial: viver é um verbo que só se conjuga na primeira pessoa. 
 
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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