quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Ajudar não é substituir

    Ajudar alguém não é assumir seu lugar na travessia. É estar perto o suficiente para oferecer um braço quando a noite pesa, mas longe o bastante para que o outro ainda sinta o próprio chão sob os pés. Há caminhos que ninguém pode percorrer por nós — e, mesmo assim, insistimos em carregar dores alheias como se fossem nossas, tentando salvar quem talvez precise apenas aprender a caminhar com a própria queda. 
 
    A verdadeira ajuda é discreta, quase imperceptível. Não toma decisões pelo outro, não segura a mão com força demais, não substitui a coragem que cada um precisa encontrar dentro de si. É uma presença que encoraja sem dominar, que ampara sem apagar, que orienta sem conduzir. Porque a vida de outro não é um território que possamos ocupar; é um labirinto cujo mapa só existe dentro dele. 
 
    Às vezes, ao tentarmos fazer pelo outro, roubamos a chance que ele tinha de descobrir sua própria força. E nenhuma transformação brota sem esse esforço íntimo, doloroso e solitário. Ajudar é, então, acender uma pequena lanterna e oferecer ao viajante — não para guiá-lo, mas para que ele próprio enxergue o próximo passo. 
 
    Cada qual deve caminhar com seus próprios pés. Mas isso não significa caminhar sozinho. Significa que a jornada, sempre pessoal, pode ser acompanhada: lado a lado, sem que um se torne substituto do outro. É nesse equilíbrio — entre presença e liberdade — que o cuidado se torna verdadeiro. 
 
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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