segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Somos histórias I

    Somos feitos de histórias, mas elas não são eternas. Um dia, até as mais intensas se dissolvem como tinta esquecida à mercê da chuva. 
 
    Carregamos narrativas que julgamos sólidas, mas que não passam de fragmentos, ecos que se esfarelam na memória de quem nos recorda. Somos um conjunto de páginas que o tempo rasga sem aviso, um livro que insiste em se apagar enquanto ainda se escreve. 
 
    A vida não nos garante permanência; garante apenas passagem. E nessa travessia, cada gesto é uma palavra lançada ao vento, cada silêncio um parágrafo que talvez nunca seja lido. No fundo, somos a soma de histórias mal contadas, interrompidas, perdidas. O que permanece é tão frágil quanto o sopro de quem nos menciona ao acaso. 
 
    E, quando o último leitor fechar os olhos, talvez descubramos que nunca fomos mais do que um borrão no papel infinito do esquecimento. 
 
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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