Nem sempre é fácil desacelerar — e talvez nunca seja. O mundo parece correr em alta velocidade, e há uma pressão silenciosa para acompanhá-lo, como se o valor de viver estivesse em não parar. Mas é justamente na pausa que a vida respira.
Parar não é desistir, é escutar o próprio ritmo. É nesse intervalo que o corpo fala, o coração se alinha e a mente encontra clareza. A pausa é o ponto em que o excesso se dissolve e o essencial se revela.
Desacelerar é um ato de coragem num tempo que glorifica o movimento constante. É escolher presença em vez de pressa. É compreender que há sabedoria no silêncio e força em simplesmente estar.
Desacelerar é um gesto de resistência ontológica. Em um mundo que se mede por produtividade, a pausa se torna quase um ato subversivo — um retorno ao ser, quando tudo ao redor insiste no fazer.
O fluxo incessante da vida moderna nos empurra a confundir movimento com sentido. A mente, em sua ânsia de acompanhar o ritmo do mundo, esquece-se de que o tempo interior não obedece às mesmas leis que o tempo do relógio. Heidegger diria que, ao nos perdermos no “falatório” e na agitação cotidiana, esquecemos o que significa existir de fato.
A pausa, então, não é mera interrupção, mas reencontro. É um espaço de abertura, onde o eu volta a se perceber como presença no mundo — não como peça em um mecanismo. Quando paramos, permitimos que o silêncio nos devolva aquilo que o ruído nos roubou: a consciência de estar vivos.
Desacelerar é aceitar que há sabedoria no intervalo, que o sentido da vida não se revela no acúmulo, mas na atenção. E que, às vezes, parar é o modo mais autêntico de continuar — não no tempo do mundo, mas no tempo da alma.
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense

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