Farei, neste texto, uma relação entre uma pintura de Ticiano, a teoria de Aristóteles e a nossa vida. Preparados? Vamos lá!
Abaixo
das cabeças humanas aparecem três cabeças animais: o lobo, o leão e o
cachorro. O lobo, em muitas culturas, é o animal sábio, precavido,
atento, intuitivo e solitário. Ele é o animal da noite. O leão é o
animal da caça, da inteligência e da força. Ele é solar e simboliza o
orgulho, representado pela sua realeza entre os animais. O cachorro, na
Antiguidade, representava a vida eterna: o mais famoso deles era
Cérbero, o guardião do portão do reino de Hades. Para
que a prudência
seja exercida, precisa destas três atitudes psicológicas: a memória do
lobo, para lembrar das experiências passadas; a inteligência do leão,
que julga o presente com eficácia; e a previdência do cão, que antecipa o
futuro.
Passo agora à teoria de Aristóteles. Na sua Ética a Nicômaco, ele trata da justa medida e do meio-termo. Segundo Aristóteles, a phronesis
não é uma ciência ou uma técnica, mas uma sabedoria prática, cujo
assunto são as coisas humanas. É uma disposição da mente que se ocupa
com as coisas justas, nobres e boas para o homem e está relacionada à
virtude e à capacidade de deliberar adequadamente o que é bom para cada
um de nós, não em vista de algo particular, mas sobre aquilo que
contribuem para a vida boa em geral.
E qual é a relação de Ticiano e Aristóteles com a nossa vida? Os
jovens, segundo Aristóteles, embora possam aprender coisas importantes
do ponto de vista da ciência e da técnica, raramente seriam dotados de
sabedoria prática: o motivo é que essa espécie de sabedoria diz respeito
não só aos universais, mas também aos particulares, que se tornam
conhecidos pela experiência. Ora, um jovem carece de experiência,
que só o tempo pode dar. Aristóteles entende que um menino não pode se
tornar filósofo (embora possa ser um bom matemático ou físico) porque a
Filosofia (como sabedoria prática) não é uma abstração, mas diz respeito
às decisões concretas da vida, às nossas ações. Por isso, os jovens
devem prestar atenção aos ensinamentos dos adultos e buscar sempre a
prática da prudência e da temperança, com o intuito de aprender a agir
corretamente, o que significa fazer boas escolhas. Assim, o
discernimento é o caminho para o alcance do bem.
As
três idades que aparecem na pintura de Ticiano são, na teoria de
Aristóteles, representados pelo menino, que carece de experiência e pelo
adulto e pelo velho, que devido a experiência, conseguem utilizar a
sabedoria prática em suas vidas. E aqui está a relação com a nossa vida:
devemos amadurecer e buscar, por meio da experiência, a phronesis. E ela é unicamente adquirida pelo hábito e pela prática.
Grande abraço,
Mateus Salvadori
Postagem: Odair José, Poeta Cacerense
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