Estava eu diante da autoridade policial relatando os fatos. Acabara de saber que tinha sido furtado. Alguém havia subtraído de meus bens. Na minha distração e correria do dia a dia havia esquecido de trancar o carro e o larápio, aproveitando desse descuido, levou minha mochila com todos meus materiais escolares, livros, notebook e minha carteira com todos os meus documentos. Um transtorno que não desejo para ninguém. Então, logicamente uma das primeiras medidas a se tomar numa situação dessas é procurar o CISC para registrar um Boletim de Ocorrências.
Pois bem, lá estou eu diante da autoridade policial. Uma vítima de um sistema selvagem. Ele me pergunta como aconteceu e o que levaram de mim. Relato o acontecido e ele olha para mim e diz: "Também, estava pedindo para ser roubado!". Respirei fundo na hora. Afinal, as coisas já não estão boas e, se for falar o que estou pensando, ele pode não entender e as coisas ficarem piores ainda. No entanto, fiquei meditando sobre isso. Essa fala do policial é uma fala que, infelizmente, é corriqueira.
Imaginei ali no meu lugar uma mulher que acaba de ser violentada por alguém e o policial perguntando para ela: "Onde você estava e o que estava usando?" e após a resposta da mesma ele pondera: "Também, estava pedindo para ser estuprada!" O fato é que está enraizado em nossa sociedade que a culpa é sempre da vítima. Entendo que dei uma parcela de contribuição para o meliante, mas isso não o isenta de ser o culpado. Ele me furtou bens materiais que só tem valor para mim. Eu estava estacionado na calçada de minha casa. Minha propriedade. O Estado deveria me dar a segurança. No entanto, na visão do policial, eu estava pedindo para ser roubado.
Ninguém pede para ser roubado. Ninguém! Agora é engolir o choro, esperar que o larápio tenha o mínimo de consideração e veja que os meus escritos, poesias, textos e reflexões que estão nos cadernos, nas agendas e nos pendrives, só tem valor para mim.
Quanto ao policial na sua cadeira de investigador que ele possa olhar as vítimas de uma outra forma e não com o olhar preconceituoso de uma sociedade elitista, racista, machista e patriarcal como a nossa. Quanto a mim, continuarei fazendo o que faço de melhor: reflexões!
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense
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