A dúvida é, em muitos sentidos, o motor do pensamento filosófico. Descartes, por exemplo, parte da dúvida radical para reconstruir um fundamento seguro para o conhecimento — Cogito, ergo sum. Mas o que acontece quando nem mesmo o "eu penso" parece mais sólido? Quando as bases da realidade, da verdade e até do próprio sujeito se tornam incertas?
Nesse ponto, a razão começa a vacilar. Porque a razão, embora poderosa, é uma ferramenta que precisa de algum chão — uma premissa, uma experiência, um princípio. Quando tudo se torna dúvida, a razão perde sua âncora. O que era lógica se transforma em labirinto. O que era certeza se dissolve em névoa.
Nietzsche diria que essa vacilação da razão é o prenúncio do niilismo: quando os valores absolutos deixam de ter validade, e o ser humano se vê suspenso no vazio. Kierkegaard, por outro lado, via na dúvida o prelúdio da fé: quando a razão já não basta, é preciso saltar — não rumo a uma certeza racional, mas a um comprometimento existencial.
No mundo contemporâneo, saturado de informações, relativismos e simulacros, a frase ganha novo peso. Quando tudo pode ser questionado — as verdades científicas, as narrativas históricas, as identidades — a razão parece não bastar para nos guiar. E talvez, justamente nesse ponto, surja a necessidade de outro tipo de saber: aquele que inclui a intuição, o silêncio, a poética da existência.
Quando tudo vira dúvida, a razão vacila não porque seja fraca, mas porque está só. E talvez esse seja o chamado para integrar outros modos de saber — mais sensíveis, mais existenciais — que nos permitam continuar mesmo sem garantias. A dúvida, então, não seria o fim do caminho, mas a porta estreita por onde passamos para redescobrir o valor da escolha, da criação e do sentido.
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense
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