Há um instante mágico que antecede a leitura: o gesto de pegar um livro. É simples, mas solene. Os dedos percorrem a capa como quem cumprimenta um velho amigo ou descobre um segredo guardado em silêncio. O mundo, lá fora, continua em sua pressa indiferente — mas aqui dentro, há uma pausa, um respiro, um convite.
Ler é mais do que decifrar letras. É sair de si sem deixar o lugar. É emprestar os olhos a outros tempos, outras vozes, outras verdades. Quem lê aprende a escutar o que não foi dito, a enxergar o invisível, a sentir o que jamais viveu.
O livro não exige nada além de presença. Não cobra aparência, nem pressa, nem sucesso. Basta abrir — e ele se abre também, generoso. Em suas páginas cabem mundos inteiros, silenciosos e vibrantes, à espera de alguém que ouse habitá-los.
Ler é resistência num tempo de distração. É cultivo da escuta, da empatia, da profundidade. É prazer que não precisa de tela nem de senha. Um prazer antigo, mas sempre novo — porque nenhum livro é lido da mesma forma duas vezes, e nenhum leitor sai igual ao que entrou.
No fim, o que o livro oferece não é só conhecimento, mas companhia. E, às vezes, isso basta: um livro nas mãos e o mundo, por um tempo, em suspenso.
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense
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