Na poeirenta estrada que levava de Jericó a Betel, caminhava o profeta Eliseu. O sol brilhava sobre sua cabeça descoberta, refletindo sua calvície como um sinal claro de idade e sabedoria — ou assim via ele.
Mas à beira do caminho, um grupo de jovens riam alto, desrespeitosos como o vento que sopra sem rumo. Ao verem o profeta, apontaram e zombaram:
— Sobe, calvo! Vai-te daqui, careca!
Não era apenas zombaria infantil — era escárnio contra um homem de Deus, contra o próprio chamado divino. Eliseu parou. Seus olhos, antes cansados, brilharam com a chama da justiça.
Virou-se para os rapazes. Sua voz cortou o ar como uma espada invisível:
— Em nome do Senhor, eu vos amaldiçoo.
O riso morreu ali mesmo. Da mata próxima, dois vultos surgiram — ursos de pelagem escura e olhos como carvões em brasa. Com um rugido ancestral, saltaram entre os espinhos e árvores, espalhando pânico.
A lição foi dura. Quarenta e dois dos rapazes não escaparam da fúria das feras. E Eliseu seguiu seu caminho, com passos firmes e cabeça erguida, calva e luminosa, como um aviso:
Desrespeitar o mensageiro é desafiar o próprio céu.
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense
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