quinta-feira, 19 de março de 2015

O coxo na porta do Templo



Por Odair José da Silva

Hoje o dia foi diferente. Não que não fosse um dia como qualquer outro de minha vida nesses quarenta anos de existência. Muito sofrimento. Todos os dias o meu trajeto é o mesmo. Levantar-me cedo e ser conduzido até a porta do templo para receber esmola. Nasci com as pernas atrofiadas e não posso andar. Sou um aleijado. Um coxo, como as pessoas me conhecem. Na porta do templo é o melhor lugar para ficar porque, aprendi que as pessoas devotas, normalmente são melhores para dar esmolas. De alguma forma elas se sentem um pouco aliviadas de seus pecados ao me ajudar com alguma coisa.

Hoje, como qualquer outro dia de minha vida observei o nascer do sol e o cantar dos pássaros. Vi as árvores em flores e as abelhas a colher o néctar dessas flores para produzirem o seu mel. Notei, também, que as pessoas caminham no seu vai e vem rotineiramente, cada um ocupado com suas preocupações cotidianas. É, meus caros, parecia ser um dia como outro qualquer. Parecia, mas não era.

Tive a sensação, logo cedo ao acordar de que alguma coisa iria acontecer comigo nesse dia. Não sei explicar direito essa sensação, mas senti como se uma chama ardesse em meu coração. Sempre tive esperança de andar um dia. Observava as pessoas caminhando de um lado para outro e imaginava poder controlar os meus passos. Às vezes, até imaginava onde colocaria os meus pés, caso conseguisse andar um dia. Sei lá, correria para o rio para sentir as águas aos meus pés ou pelos campos a tocar os lírios e as árvores. Passava horas e horas imaginando tudo isso. Mas, tristemente, notava que precisava de alguém para apoiar-me e conduzir-me todos os dias. Sabe o que significa ter uma vida miserável? Pois é, essa é a vida que tinha. Você depender de ser carregado ou apoiado em outra pessoa a vida toda.

Mas eu sabia que hoje seria diferente. O dia foi passando lentamente. Eu comecei a observar mais atentamente as pessoas que adentravam o templo. Alguma coisa me dizia que eu encontraria em algumas daquelas pessoas bem mais que uma esmola. Cada moeda que era depositada em minhas mãos significava um auxilio para mim e minha família. Eu nunca tive forças para trabalhar e meu sustento era dessas esmolas. Eu sabia que na porta do templo era um lugar interessante para mendigar. Nas praças e avenidas circulam mais pessoas, no entanto, as que vem ao templo são mais benevolentes.

Já era próximo a hora nona quando os avistei. De cara percebi que eram diferentes em temperamentos e ideologias quem sabe, mas caminhavam os dois juntos e resplandeciam os seus semblantes como se fossem espirituais. Almas superiores. Abordei-os solicitando que me dessem uma esmola. Foi quando me disseram: Olhe para nós que compreendi porque meu dia seria diferente.

- Não temos dinheiro, não temos ouro e nem prata. Foi o que me disseram.

Não me soou, a principio, legal essas palavras. E meu coração bateu mais acelerado. O sol ofuscava a minha visão. Ou talvez fosse o brilho daqueles homens que estavam diante de mim. O que podiam me dar então?

- Mais o que temos, isto te damos.

Minhas pernas tremeram. Eu senti uma força percorrendo-as e algo movimentava os nervos há tanto tempo adormecidos.

- Em Nome de Jesus. Levanta e anda.

Não corri para o rio e nem para os campos, não senti as águas e nem toquei os lírios. Quando dei por mim eu estava correndo dentro do templo. Minhas pernas estavam curadas. Eu posso andar. É uma experiência maravilhosa.

A autoridade desses homens é algo inexplicável. Em nome de Jesus eu estou curado. Isso é uma maravilha. Eu estou muito feliz. Minha vida agora é outra. Eu não dependo mais de ninguém. Sou a prova viva de que Deus em Cristo Jesus é o Senhor de todas as coisas.

Hoje o dia foi diferente. Eu tenho a liberdade para andar e por isso glorifico ao meu Deus.

Texto: Odair

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