quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Deus está morto!


Por Odair José da Silva

Deus está morto! Essa foi a frase que impactou a minha vida naquela noite. Eu era bem jovem e morava no fim do mundo como diziam alguns. Era uma vila encravada no interior de Mato Grosso no final dos anos 80. Um pregador que transmitia a mensagem naquela noite em um culto público numa casa simples no final de uma rua de chão. Naquela noite, apesar de outras preocupações, a mensagem sobre o homem que decretou a morte de Deus me chamou a atenção.

Durante toda minha vida eu sempre busquei o equilíbrio de nas minhas ações e respostas para as inúmeras indagações existenciais que sempre tomou conta dos meus pensamentos. Mas, eu estive errado por muito tempo. Deixei-me ser levado ao extremo das ideologias e isso não é bom. Os anos 80 marcaram a minha juventude. Músicas de Raul Seixas, RPM, Engenheiros do Hawaii me faziam, além de viajar, pensar sobre possibilidades. Por causa da religião meu pai proibia nos de assistir televisão, o que não nos impedia de burlar as ordenanças e assistir nos vizinhos. Os filmes daquela época me cativaram e fazia-me sonhar com altas aventuras. Foi nessa época que construí meus primeiros romances. Aventuras que imaginava com meus colegas logo após assistir algum filme de ação ou aventura. O “mundo” era um fascínio.

Mas, foi nessa época também em que, mais por força de acontecimentos na minha vida, que eu fui para a igreja e abracei a fé cristã. Dediquei-me na leitura da Bíblia e passava horas e horas em oração e meditação. Hoje eu entendo o que é ter zelo sem entendimento. Eu saia de um extremo para outro. Durante muito tempo minha vida foi de altos e baixos. Queria muito dedicar minha vida na igreja, mas os cuidados das coisas do mundo me atraia. Eu gostava de jogar bola, de assistir filmes e, gostava demais de ler gibis. E, tudo isso, naquele lugar, aos olhos dos irmãos, era pecado. Se eu fizesse isso estava condenado ao inferno. Então, o conflito psicológico era intenso.

Lembro-me de uma vez em que levantei-me de madrugada para orar. Duas, três horas da madrugada, mais ou menos. Orei e li a Bíblia até as seis ou sete horas daquele dia. Mas, na primeira “tentação” daquele dia sucumbi aos desejos da carne. Aquilo foi trágico na minha vida. Eu lamentava e me culpava por ser tão fraco. Pensamentos de impotência diante dos prazeres do mundo me torturavam e o conflito da alma aumentava cada dia. O que fazer em situações como essas? O conflito interno. A batalha contra os seus desejos é intenso. O seu inimigo é desconhecido. Durante muito tempo passei por esses conflitos. E o pior em tudo isso é que ninguém pode te ajudar nessas horas.

Então, com o passar dos tempos, eu oscilei entre um caminho e outro. Quando estava na igreja queria ser o mais puro e santo de todos. Quando me afastava me afundava no pecado e sujeira desse mundo. Onde estava o equilíbrio? Quem poderia me ajudar? Uma solidão profunda tomava conta de mim mesmo estando em meio a uma multidão. Um vazio na alma me torturava. Mas, eu não conseguia encontrar uma saída.

Anos mais tarde quando fazia a faculdade de História um dos meus professores começou a falar das ideias de Nietzsche e sua filosofia a golpes de martelo. Foi então que despertou-me aquela mensagem ouvida a muitos anos atrás. Sim. Eu estava diante do homem que decretou a morte de Deus. E isso era, para mim, uma grande descoberta. Como assim? Quis saber tudo que esse camarada tinha falado e porque tinha falado. Na minha busca pelo saber eu tinha que me debruçar nos aforismos desse pensador.

O que poderia me desvirtuar do caminho, como dizia meus amigos mais íntimos, fez-me aproximar dele. Na minha busca pelo conhecimento fui ler. Nietzsche tornou-se para mim um amigo que conversávamos horas e horas como faço com Davi e Paulo, meus escritores favoritos da Bíblia. Claro que outros como C. S. Lewis, John Stott e Keith Jenkins me fizeram ampliar meus conhecimentos e com isso meu entendimento. Para onde estou indo? Não posso dizer com certeza. E nem posso afirmar que hoje eu encontrei o equilíbrio. Mas, posso afirmar que a cada nova leitura eu encontro novas pérolas pelo caminho que deixa-me eufórico. Eu já acreditei no comunismo. Comum a todos, como a Igreja primitiva fazia. Repartia entre si os seus bens e todos tinham em comum as coisas entre si. Eu estava errado? Me equivoquei? Não sei. Se quiserem podem me julgar. Atire a primeira pedra aquele que nunca teve uma dúvida como essa.

Deus está morto mesmo? Como não pararmos diante de uma questão como essa para analisar os seus desdobramentos? Deus está morto ou nós matamos a noção de Deus de nossas vidas? Para muitos, isso pode soar como uma blasfêmia. Que seja. Mas, não me conformo em ver tantas atrocidades cometidas em nome de Deus nos dias atuais. Condenamos as atitudes dos colonizadores espanhóis e portugueses na América, ingleses, franceses, holandeses e outros na África e na Ásia. Condenamos os cruzados massacrando muçulmanos. Mas, e nós? Não fazemos o mesmo em nome de uma ideologia que nem mesmo sabemos de onde se originou? Ou será que você sabe de onde vem as ideias que você tanto defende. Com certeza as ideias que temos se origina em alguma outra ideia. Então, como podemos afirmar que A está certo enquanto B está errado? Como ter certeza das ideias que defendemos?

Deus existe? Essa foi uma das perguntas que elaborei na prova de Filosofia para meus alunos. Eles tinham estudado, neste bimestre, sobre as ideias de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. As respostas, assim como os filósofos medievais, divergem entre si. Para uns, Deus existe. Mas, como posso provar que Deus existe? Para outros, Deus não existe. Mas, como posso provar que Deus não existe?

Não meu amigo, eu não tenho as respostas. Me desculpe se você leu meu artigo até aqui na esperança de encontrá-las também. Mas, continuamos nessa caminhada. Enquanto tivermos fôlego de vida e disposição para buscar o conhecimento vamos fazê-lo. Só perde quem não lê. O salmista chama bem aventurado, feliz, a pessoa que busca o conhecimento. Que medita na Palavra de Deus. Que não perde tempo com outras bobagens na vida. Que possamos fazer isso.

Texto: Odair José, o Poeta Cacerense

2 comentários:

  1. Deus existe e está em todo lugar! Todavia muitos não querem enxergar. E insiste em uma busca aonde não nos pertence. Apenas adoremos ao Deus vivo. Um artigo muito bom!

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  2. Deus existe posso enxergar com os olhos da fé,meu amigo,e quem somos nós para julgar si a ou b está errado né isso é fato , julgar cabe só a Deus....

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