quarta-feira, 4 de maio de 2016

O Último Gole


Por Odair José da Silva 

Ele olhou para o copo a sua frente. Estava pela metade. Virou de uma vez na goela e fez uma careta. Deixou o copo cair sobre o balcão e falou para o atendente:
- Pode encher dessa vez!
O rapaz olhou com desdém para o homem a sua frente. Pegou uma garrafa de 51 e encheu o copo para ele. Ainda observou ele olhando para o copo antes de virar goela abaixo outra vez. Sabia que dali ele só iria sair carregado. Era como se fosse um ritual. Todos os finais de semana era aquela mesma ladainha. Mas, esse era o seu serviço.
- Hoje eu não vou beber muito – Disse o homem.
- Sei.
Ele ficou sentado por um bom tempo a beira do balcão. Lá fora o sol já se escondia no horizonte distante e anunciava o seu descanso noturno. Era uma sexta-feira. Havia trabalhado a semana inteira arrumando uma cerca para um dos fazendeiros da região. Sabia que tinha que ir para casa levar um pouco de dinheiro para a mulher fazer uma compra.
- Preciso molhar a boca – Falou para o patrão, assim que entraram na cidade.
- Pare no boteco.
- Não é melhor você ir para sua casa?
- Eu vou ir. Só vou tomar uma e depois vou pra casa.
Mesmo insatisfeito o homem parou a camionete na porta do bar e ele desceu. Que vida miserável – Pensou o patrão ao ver ele caminhando para o bar como um cego sem direção.
- Me dê mais uma – falou para o atendente do bar. O rapaz encheu o copo mais uma vez e ele virou na garganta. Pediu uma garrafa cheia, pagou e saiu. Ainda estava sóbrio. Ia para casa ver a esposa e os filhos.

Não conseguia entender a causa da revolta. Havia feito compras e deixado o dinheiro para pagar a conta de luz na segunda-feira. Mesmo assim a mulher estava resmungando alguma coisa. Isso o irritava. Que porcaria de vida! Pensava enquanto se dirigia para o fundo do quintal. Trabalho igual um condenado para sustentar essa casa e a mulher só sabe reclamar.
Olhou as mudas de bananeiras que havia plantado na semana passada e a pequena horta que já começava a dar suas primeiras verduras. Existia dentro de si uma crise existencial. Estava pensando nas palavras que aquele jovem que o ajudara durante a semana lhe falara enquanto trabalhavam no concerto da cerca da fazenda.
- O senhor precisa aceitar a Jesus como Salvador. - Disse o jovem a certa altura. - Ele pode libertá-lo das bebidas.
Parou para enxugar o suor da testa e olhou para o jovem com ar de insatisfação.
- O que andam comentando sobre mim na cidade?
- Ah! Sabe como são as pessoas, né? Elas falam muitas coisas. - O jovem fez uma pausa, olhou para ele e completou – Falam da sua bebida. De como o senhor gasta todo seu dinheiro com a pinga.
Aquelas palavras martelavam sua mente. Jesus pode libertá-lo das bebidas. Como seria isso possível?
Levantou-se e caminhou para a rua.
- Já vai beber? - Gritou a mulher quando ele abria o portão de balaustre que dava acesso a rua de chão.
- Ah! - Exclamou – Vê se não enche!
Caminhou decididamente para o boteco.

Tropeçava nas próprias pernas. Mesmo cambaleante resolveu ir embora para casa. Já era tarde e fazia horas que estava bebendo. Foi quando começou a ouvir aquela melodia.
“Foi na cruz, foi na cruz/ onde um dia eu vi/ meus pecados castigado em Jesus/ foi ali, pela fé/ que meus olhos se abriu/ e agora me alegro em sua luz”.
Era uma igreja aberta e o povo estava cantando. Com dificuldade caminhou para lá. Um porteiro o recebeu na porta e não queria deixá-lo entrar. Seu bafo de pinga era insuportável. Falava alto e chamava a atenção das poucas pessoas que estavam naquela igreja. Outro porteiro se aproximou.
- O que está acontecendo?
- Ele está bêbado – disse o primeiro porteiro – não dá para deixá-lo entrar na igreja, vai atrapalhar o culto.
- Deixa ele comigo.
Aproximou-se dele e falou em seus ouvidos.
- Olha, eu vou deixar você entrar, mas tem que me prometer que vai se comportar. Nada de fazer gracinha ou eu retiro você de lá de dentro.
Balbuciou alguma coisa. Seus sentidos não o estava ajudando muito. Só queria sentar. E aquela música acalmava seu coração.
O porteiro o conduziu até o último banco e o ajudou a sentar. Ficou perto dele enquanto o culto acontecia. Algumas pessoas o olhava com curiosidade. Outras com repulsa. Baixou a cabeça e ficou ouvindo. Quase dormiu. Mas foi despertado pelo toque no ombro que o porteiro deu nele.
- O senhor não quer aceitar a Jesus?
- Quê?
- Está tendo um convite.
As pessoas olhavam para ele com ar de incredulidade. Lá na frente um homem falava sobre o poder de Jesus de libertar as vidas.
- Jesus te convida nesta noite. Vinde a mim todos os que estão cansados e oprimidos e eu vos aliviarei. Meu amigo – continuou o pregador – não importa como está a sua vida. Jesus tem o poder de mudar esse quadro. Abra o seu coração e deixe Jesus mudar a sua vida.
- Sim!
Levantou-se e caminhou até o altar. Com a ajuda do porteiro ele ajoelhou na frente e recebeu a oração da fé.
Pelo olhar de alguns ali na igreja aquele bêbado não voltaria nunca mais naquele templo. Mas, a obra é de Deus. E passado alguns dias a vida daquele homem mudou radicalmente. Antes conhecido como “Pinga” e “Bêbado”, agora é conhecido como “Crente”.

Baseado em fatos reais!

Conto: Odair José, o Poeta Cacerense

Nenhum comentário:

Postar um comentário