domingo, 18 de agosto de 2024

Este meu eu desconhecido

    Dentro de mim, há um eu que desconheço, um ser que se esconde nas sombras do que penso conhecer. Ele vagueia por labirintos internos, onde a luz raramente penetra, e as palavras nem sempre encontram eco. 

    Esse eu é uma constelação de sonhos não sonhados, de medos não confessados, de desejos que mal ouso nomear. Ele carrega em si o peso de memórias que não vivi, de futuros que nunca alcançarão o presente. É uma presença ausente, uma voz sussurrada no silêncio, uma sombra que se alonga quando a luz da consciência vacila. 

    Às vezes, sinto sua presença como um leve tremor na alma, uma inquietação sem nome. Outras vezes, ele se manifesta como um estrondo, rompendo as barreiras do que acredito ser. Esse eu desconhecido é, talvez, a minha essência mais pura, aquela que não foi moldada pelo tempo, pelas escolhas ou pelas circunstâncias. É o que resta de mim quando me despojo das máscaras, quando me permito ser vulnerável diante do espelho do mundo. 

    No entanto, por mais que eu o tema, também o anseio. Porque sei que é nele que reside a minha verdadeira liberdade, a minha capacidade de ser plenamente, sem reservas, sem medo de ser julgado. Esse eu desconhecido é a semente do que posso vir a ser, o núcleo da minha transformação contínua. 

    E assim, sigo nesta jornada interior, buscando conhecer o que em mim é mistério. Cada passo, por mais incerto que seja, me aproxima desse eu profundo, que, ao mesmo tempo em que me desafia, me acolhe. Porque, no fundo, somos todos feitos dessa matéria indefinível: a mistura de luz e sombra, de conhecido e desconhecido, de ser e não ser. 

Reflexão poética: Odair José, Poeta Cacerense

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