A terra, em sua essência, é apenas terra—um punhado de matéria sob nossos pés, indiferente ao que sentimos. Mas, à noite, quando o sono hesita em chegar, tudo ganha proporções imensas. As preocupações se avolumam, o silêncio pesa, e o tempo se alonga. O que à luz do dia parecia simples e pequeno agora se impõe como um gigante na escuridão. É que, antes de adormecer, estamos mais vulneráveis às dimensões da mente do que às do mundo. E, ainda assim, o amanhecer sempre vem, reduzindo tudo de volta ao seu verdadeiro tamanho.
Pedi ao mundo uma resposta, uma certeza de que cada coisa se encaixa, que há um sentido nos desencontros e uma ordem no caos. Esperei que ele me mostrasse um mapa, uma bússola que apontasse para um destino certo. Mas o mundo respondeu com o vento, que dança sem rumo e ainda assim encontra seu caminho. Respondeu com as marés, que vão e vêm sem se perder. Respondeu com as estrelas, que brilham em meio à vastidão sem se apagarem. Então entendi: o lugar de tudo não é fixo, mas se revela no movimento, na aceitação e na confiança. O mundo não me deu certezas, mas me ensinou a encontrar meu próprio espaço, ainda que ele mude com o tempo.
Ninguém sabe o que é ouvir a morte a chegar perto das coisas. Talvez porque a morte não faz barulho — ela se insinua no silêncio, no vazio que se instala antes da ausência. Sentimos sua aproximação no olhar perdido de quem já não pertence inteiramente ao agora, no cheiro das flores que secam, no som de um último suspiro que ninguém sabe quando será. A morte não grita, mas sussurra em cada despedida, em cada coisa que se apaga sem alarde. E, no fundo, talvez seja isso que mais assusta: não o fim, mas a quietude que o anuncia.
Reflexão: Odair José, Poeta Cacerense